Em 90 dias deve ser concluída a transferência do setor materno infantil do Hospital São Lucas (HSL) da PUCRS para o Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV), ambos em Porto Alegre, uma operação que faz parte do reposicionamento da casa de saúde ligada à universidade católica. Essa é uma das ações previstas pela instituição para reduzir o déficit financeiro que bate na casa dos R$ 300 milhões. A previsão para 2020 é que esse prejuízo cresça mais R$ 75 milhões.
Com a movimentação do setor materno infantil, além de diminuir o rombo, a direção do HSL quer fortalecer o atendimento nas linhas adulto e idoso, vocacionando o atendimento para geriatria, gerontologia, neurologia, oncologia, cardiologia e ortopedia. A mudança do perfil epidemiológico da população provocada pela inversão na pirâmide etária – a partir de 2029, a população gaúcha com mais de 60 anos será maior do que a faixa com até 14 anos – também serviu de incentivo.
O convênio assinado nesta sexta-feira (17) prevê que o HSL faça transferência de mobiliário e de equipamentos e remaneje a equipe médica para o hospital público. Conforme previsto em contrato, espaços do HMIPV serão reformados para receber a ampliação dos serviços e alguns, desativados há anos, serão reabertos. Haverá, com isso, acréscimo de até 93 novos leitos na instituição hospitalar pública, totalizando 185 leitos. A capacidade de atendimento aumentará em 89%, diz o diretor do HSL, Leandro Firme. Ele também destaca como ponto positivo para a saúde pública o ganho em expertise com o remanejamento do corpo médico e técnico do HSL. Segundo o diretor, não há previsão de demissões. A maioria dos 300 profissionais que atua no setor materno infantil do HSL será realocada para o HMIPV.
— A outra parte será aproveitada na rotatividade do hospital. Temos planejamento de fazer o melhor aproveitamento possível das pessoas — disse, sem entrar em detalhes.
A contrapartida da mantenedora do São Lucas para o convênio será de aproximadamente R$ 6 milhões, que serão investidos em reformas estruturais e equipamentos cedidos pela instituição de saúde.
Segundo a PUCRS, com o convênio, o Sistema de Saúde deixará de repassar aproximadamente R$ 900 mil mensais para o São Lucas. A instituição de ensino fará um repasse anual de aproximadamente R$ 1,5 milhão em razão dos serviços de estágios e residências a serem desenvolvidos no HMIPV. A operação ampliada no HMIPV terá um custo mensal em torno de R$ 2 milhões.
Quando começou a ser ventilada a transferência do setor, no início do ano, alunos da PUCRS se posicionaram de forma contrária à ação. A insatisfação dos estudantes é com a falta de diálogo.
— Para onde vão os residentes? O Presidente Vargas vai comportar o número de residentes que tem aqui no São Lucas? Hoje está sendo transferido este setor do hospital. E depois, o que mais vai ser transferido? Ninguém explica — reclama Denis Santos Brum, presidente do Diretório Central de Estudantes.
O Sindicato Médico do RS (Simers) também se diz incomodado com a "falta de transparência na negociação" e lamenta "o descaso com todos os profissionais, consumidores, professores, alunos e instituições representativas envolvidas".
— Transferência de áreas de um hospital para outro pode ser interessante se houver planejamento e negociação bem feita. O problema é que tudo foi feito às escuras — reclama Marcelo Matias, presidente da entidade.
Diretor técnico do Hospital São Lucas, Saulo Bornhorst garante que não haverá prejuízo no ensino. Tanto alunos quanto médicos residentes serão realocados no HMIPV ou em outras instituições de saúde.
— Há alguns anos a PUC percebeu que haveria ganho de qualidade no aprendizado dos alunos e no treinamento dos médicos residentes se oferecesse estágios fora do Hospital São Lucas. Essa troca de experiência, esse aprendizado em locais diferentes, a possibilidade de conhecer outras realidades melhora o aprendizado — justificou.
A reportagem de GaúchaZH aguarda retorno da Secretaria Municipal de Saúde da Capital, que não ocorreu até as 21h45min desta sexta-feira.