Na impossibilidade de prever o número de vítimas fatais da pandemia de coronavírus, Porto Alegre fez um levantamento da estrutura que tem para enfrentar cenários diversos.
Por enquanto, o entendimento é de que a cidade está preparada para enfrentar eventual aumento da demanda. Nos últimos 10 anos, a média mensal de sepultamentos e cremações na cidade se manteve em torno de 900, com aumento para até pouco mais de mil no auge do inverno por causa de doenças respiratórias. Com o pico da covid-19 prevista para os meses de maio e junho, conforme o Ministério da Saúde, a tendência é de que os números cresçam.
A Capital tem, atualmente, 5,8 mil vagas disponíveis em cemitérios e 3.080 urnas (caixões) armazenadas em 23 funerárias.
— Nós temos um sistema funerário robusto, preparado. Mas em uma pandemia como essa, não tem como fazer previsões. Vamos avaliando se as medidas adotadas estão funcionando e vamos nos preparando dentro do possível — explica Paulo Valentim Saldanha Fernandez, presidente da Comissão Municipal de Serviços Funerários.
Avaliando o avanço da contaminação no mundo, as funerárias já prepararam reservas maiores. Lei municipal determina que cada uma tenha estoque de 60 caixões. A reserva na Capital está com 1,7 mil urnas a mais do que o exigido, além de outras 1,2 mil já encomendadas e que devem chegar até o final de maio.
Conforme a Comissão Municipal de Serviços Funerários, a média mensal de óbitos na Capital foi de 1,5 mil pessoas nos últimos 10 anos – média mensal que não foi alterada em março deste ano, quando o país começou a sofrer as primeiras consequências por coronavírus. Só que deste total, 40% dos falecidos são levados para outras cidades. Por isso, a média de enterros e cremações é de 900 pessoas.
Além de 20 cemitérios, Porto Alegre tem dois crematórios que, atualmente, têm autorização ambiental para realizar oito cremações por dia cada um. Mas, se liberados, os crematórios têm capacidade para funcionar por 24 horas, sem limite de atendimentos.
Plano de contingência para população mais vulnerável
Do total de 900 sepultamentos feitos por mês na Capital, em torno de 60 são realizados dentro do sistema gratuito ofertado pelo município para pessoas vulneráveis, de famílias com renda de até dois salários mínimos. Esses enterros gratuitos ocorrem em dois cemitérios: no São João e no Campo Santo do Cemitério da Santa Casa. Nos dois há em torno de 430 vagas disponíveis. Conforme dados da Associação Sulbrasileira de Cemitérios e Crematórios (Asbrace), cemitérios da Capital têm uma capacidade para construir mais 81 mil vagas.
Antevendo dificuldades para a população carente ou uma excepcionalidade com mortes em massa, a prefeitura elaborou um plano de contingência para atender às necessidades nestes cenários. As ações contam com parcerias: governo do Estado, entidades representativas dos cemitérios e crematórios, Ministério da Saúde e Exército. O plano, sob coordenação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE), visa a definir estratégias de atuação alinhadas entre todos os órgãos participantes.
O planejamento também incluiu atenção com os cuidados necessários para o sepultamento de vítimas da covid-19. Há regramento específico sobre o manejo dos corpos pelos serviços funerários e sobre como devem ser as cerimônias.
— Tratamos desse assunto com muita cautela. Fizemos tudo para não termos nenhuma anormalidade. Mas faz parte da nossa responsabilidade pensar em todas as hipóteses — disse o prefeito Nelson Marchezan.