Despedidas mais rápidas e intimistas. Essa é a mudança esperada pelos cemitérios e crematórios da Capital para se adaptarem ao decreto emitido no final da noite desta terça-feira (17) pela prefeitura de Porto Alegre e que limita o número de presentes nas cerimônias. Já há, inclusive, empresas oferecendo transmissão pela internet para evitar deslocamentos até os locais. Tudo para evitar a disseminação do coronavírus.
O decreto assinado pelo prefeito Nelson Marchezan limita a 30% a ocupação dos espaços em que ocorrem os velórios, levando em conta a capacidade máxima prevista no alvará de funcionamento ou no Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI).
Também pensando na prevenção, a Associação Sulbrasileira de Cemitérios e Crematórios (Asbrace), entidade que representa os espaços da Capital, estuda reduzir o tempo da cerimônia antes do enterro. Atualmente, o máximo que um corpo pode permanecer sendo velado é 24 horas após constatado o óbito.
O presidente da associação, Gerci Perrone Fernandes, afirma que, quanto mais rápido for o processo, menor a exposição dos funcionários e dos familiares que estiverem dividindo o ambiente.
– O decreto nos fortalece, para avançar nesse processo de conscientização de todos – define Fernandes.
O dirigente afirma que, desde que o número de mortos começou a aumentar na China, a situação do novo Coronavírus passou a ser monitorada pelos administradores dos cemitérios.
– Porto Alegre está mais do que preparada – reforça o presidente da Asbrace.
Para controlar a circulação, porteiros e cerimonialistas devem auxiliar na conversa com os visitantes, e até mesmo um rodízio nas áreas fechadas é tido como uma medida a ser implementada. Mesmo antes de o decreto ser publicado, já era notada a redução de frequentadores nas cerimônias, números confirmados pelos registros nas secretarias dos espaços fúnebres.
– Não é fácil, no momento de dor sempre é delicado realizar essa triagem, mas todos precisam entender o momento - avalia Anderson Santos de Almeida, supervisor de atendimento do Cemitério São Miguel e Almas, no bairro Azenha.
Art. 13. Fica limitado o acesso de pessoas a velórios e afins a 30% (trinta porcento) da capacidade máxima prevista no alvará de funcionamento ou PPCI.
DECRETO Nº 20.505
Publicado em 17/3/2020
Inaugurado em 1773, o São Miguel e Almas tem onze capelas, com capacidade média de vinte pessoas sentadas em cada espaço. No início da manhã desta quarta-feira (18), apenas um velório era realizado, com cinco pessoas se revezando no local.
Cruzando a Avenida Oscar Pereira, outro ponto histórico que se adapta à pandemia enfrentada é o Cemitério da Santa Casa. Das seis capelas, distribuídas em dois andares, metade registrava funerais no momento em que o decreto foi publicado. Em nenhum dos espaços havia mais do que cinco pessoas. Foi possível presenciar o uso do álcool gel por parte de um dos visitantes.
Apesar de ninguém estar utilizando máscaras cirúrgicas na manhã desta quarta-feira, os equipamentos são oferecidos a quem se sentir mais seguro com a proteção.
Cerimônia pela internet
No bairro Santo Antônio, o Crematório Metropolitano adotou álcool em concentração de 70% na limpeza de puxadores e maçanetas das portas. O produto é o indicado por especialistas para a melhor assepsia. Próximo as capelas e dentro dos locais, álcool em gel para higienização das mãos também foram distribuídos. Podem acessar o prédio 329 pessoas, capacidade definida pelo PPCI.
– Não existe no mundo um protocolo para esse tipo de pandemia. Por isso estamos seguindo o que dizem as autoridades de saúde e também recomendações de associações mundiais - informa Rafael Azevedo, presidente do grupo Cortel, administra do crematório.
O Cortel atende ainda outros nove cemitérios e cinco crematórios, três unidades fora do RS. Azevedo reforça que as medidas tomadas em Porto Alegre devem ser levadas também aos outros locais em que o grupo atua, e destaca que, para reduzir ao máximo as aglomerações, o Crematório Metropolitano oferece, de forma gratuita, acesso ao velório pela internet.
– É uma possibilidade segura para os familiares acompanharem as últimas despedidas sem se colocar em risco de contaminação - explica Azevedo.
Cemitérios municipais
A capital gaúcha tem três cemitérios municipais, todos de responsabilidade da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam): nos bairros São João, Belém Velho e
Tristeza.
Vinculado à Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico (SMDE), a comissão municipal de serviços funerários está desenvolvendo normas a serem repassadas aos cemitérios e crematórios.
Uma reunião entre as entidades está marcada para a manhã desta quinta-feira (19), segundo o presidente da comissão, Paulo Valentin Saldanha Fernandez. O titular da secretaria orienta os cuidados que devem ser tomados por quem estiver próximo ao caixão, durante o velório.
– Evite tocar o corpo. Por mais que a pessoa não transmita o vírus depois de morta, outro pode tocar no corpo e ele (o vírus) ficar ali - alerta.
A limpeza das mãos antes e após cada contato na sala do funeral é a recomendação para quem decidir frequentar o ambiente.
Com a possibilidade de aumento da necessidade dos serviços funerários, Saldanha Fernandez retoma a discussão sobre agilidade nos velórios.
– Em alguns casos, se a família concordar, a despedida pode ser rápida ou até ser dispensada - finaliza.