O “fique em casa” pegou a todos de surpresa, mas a Eduardo André Viamonte em especial. Mais conhecido na capital gaúcha como o Cara da Sunga, ele estava em férias no Rio de Janeiro até 15 de março um tanto alheio às notícias. No dia seguinte, uma segunda-feira, se viu em uma Porto Alegre esvaziada e apavorada com a chegada do coronavírus.
Conhecido por correr 20 quilômetros diários vestindo apenas sunga, chapéu e tênis pela região central da cidade, Eduardo logo teria de decidir se continuaria com a rotina. Na primeira semana, até tentou. Morador da Avenida Osvaldo Aranha, escolheu um horário de pouco movimento e deu uma volta em torno da Redenção.
— Havia lido um pouco e pensei: “Bom, não está proibido correr”, mas quando eu voltei pra casa, vi que tinham postado uma foto minha nas redes sociais. Não era um comentário negativo, era algo como “Nem o coronavírus para o Cara da Sunga”, mas percebi que eu poderia servir de exemplo para mais gente sair de casa — conta.
Como outros tantos corredores, Eduardo está fazendo circuitos dentro do apartamento. O que exigiu algumas adaptações. Começou correndo em bate e volta no corredor, mas percebeu que era ruim para as articulações aquela repetição de giros a cada poucos metros. Acabou optando por percursos com curvas entre os móveis (no vídeo, abaixo, veja algumas dicas). Depois, complementa o exercício com séries em uma bola de pilates. Diferentemente da rua, agora corre com trilha sonora.
— Quando eu corria na rua, sair de casa, encontrar gente, já era motivação o suficiente para eu correr. Em casa, tenho menos vontade. Preciso dar um jeito de encontrar motivação para me exercitar. Então coloco música, dou uns pulos no sofá, me agito um pouco — compara.
Em 5 de abril, Eduardo participou da live do grupo Império da Lã tocando tamborim e correndo ao vivo de sua casa. Mais do que saudade de suas ruas e do vento no corpo, ele se diz “curioso” para reencontrar Porto Alegre, cidade que só vê agora da janela do carro ao sair para comprar no supermercado.
— É um sentimento engraçado. Pensa em alguém que você vê todos os dias e de uma hora para outra parou de ver. Eu tenho curiosidade de saber como a cidade está. É como se fosse uma pessoa querida que eu não me aguento de vontade de visitar.
A reclusão, todavia, beneficiou Eduardo em um ponto. Em home office nos dois empregos — como professor na Grupo Idioma e TI no Banrisul — a quarentena permitiu que ele realizasse um antigo sonho.
— Ir trabalhar de sunga, claro (risos). Para tirar onda, todo mundo me perguntava se eu trabalhava de sunga. Bom, agora eu posso responder que trabalho mesmo — brinca.