Vira e mexe, Eduardo André Viamonte sente uma mão em um dos seus ombros suados e uma das perguntas abaixo vem à tona. Como não fica gripado? Usa sempre a mesma sunga? Quantos quilômetros corre por dia? Personagem de Porto Alegre por correr despido pelo Centro Histórico, Eduardo, o folclórico Cara da Sunga, interrompeu uma de suas corridas diárias para esclarecer as dúvidas mais comuns. Algumas curiosas, muitas pertinentes a outros corredores, como a forma que encontra para encarar a temperatura em forte oscilação, como nas últimas semanas.
A pergunta que não quer calar: por que corre só de sunga?
A justificativa da sunga boxer em vez de calção é porque o nylon provocava assaduras nas coxas. Já a camiseta ele dispensou porque percebeu que era mais arriscado para a saúde correr com roupas molhadas do que despido. Terminou de sunga, tênis e, via de regra, chapéu.
Nunca fica gripado? Toma vacina?
O Cara da Sunga não toma vacina e jura que, desde que começou a correr com frequência, há 20 anos, jamais ficou gripado. Nesse inverno, um dos mais desafiadores dos últimos tempos, não foi diferente. Antes de se tornar um corredor, costumava tomar ao menos duas injeções de Benzetacil para curar dores de garganta. Ele reforça, todavia, que esse é um comportamento longamente condicionado do seu corpo. Portanto, não recomenda a qualquer um sair despido por aí do dia para a noite esperando não ficar doente.
E não sente frio, simplesmente?
Ele sente "que está frio", mas não sente frio, pois mesmo desnudo se mantém aquecido. Para isso, ele lista cinco segredos:
- Manter as extremidades aquecidas. Com touca, luvas e tênis, impede que 40% do calor do corpo se esvaia.
- Manter a alimentação e a hidratação em dia. Com água, o corpo gera calor com mais facilidade.
- Não temer o frio. Segundo ele, o medo de sentir frio influencia na imunidade e no prazer da corrida.
- Não contrair a musculatura. Assim, não compromete a circulação, que também ajuda a aquecer.
- Evitar roupas molhadas em contato com o corpo, isso, sim, um veneno para ficar doente.
Ele brinca:
– É praticamente fazer o contrário do que as pessoas fazem no frio, que é ficarem encolhidas e sem lembrar de tomar água. Também não é raro eu ver corredores vestidos o oposto de mim: encasacados, e sem nada nas mãos. Comigo não funciona.
Quais cuidados toma com mudanças bruscas de temperatura?
Segundo o Cara da Sunga, as oscilações de temperatura de Porto Alegre são um inimigo maior do que o frio para a saúde. A dica é o que chama de "respeitar o agora":
– Não é porque é inverno que eu não vou me queimar, por exemplo. Se tem sol, tenho de passar protetor solar. Da mesma forma, se você saiu encasacado porque é inverno e do nada esquentou, precisa dar um jeito de tirar a roupa de cima para não ficar com a parte de baixo molhada. E reforçar a hidratação. Você deve sempre respeitar o ambiente e adaptar o exercício.
Onde guarda chaves e documentos?
As chaves, na portaria. Os documentos, em casa. O Cara da Sunga sai apenas com a (pouca) roupa do corpo e protetor solar. Por motivo práticos e filosóficos:
– Gosto da sensação de estar sem nada. Daqui a pouco, se estou com sede, (gosto) de entrar em um lugar e pedir uma água. Se sentir fome, uma fruta em uma banca. Acho que isso dá sensação de liberdade e estimula uma troca com a cidade, com o ambiente.
Usa sempre a mesma sunga? Algum modelito em especial?
Se perguntado, diz que sim pela galhofa. Mas na verdade, não. Tem "umas oito ou nove", todas do mesmo modelo – boxer, da Adidas –, com poucas variações de cores. Tem mais sungas do que chapéu, que são apenas três.
Corre todos os dias? Quantos quilômetros?
Sim, não fecham os dedos de uma mão os dias por ano em que não corre. São 20 quilômetros diários, geralmente nas cercanias do Centro Histórico e Bom Fim.
E o tênis, qual é? Troca de quanto em quanto tempo?
Troca de tênis a cada três ou quatro meses. Pela frequência das corridas, isso é fundamental para evitar lesões. Depois de testar diferentes modelos, optou pelo modelo Adidas Ultraboost.
O que faz da vida quando está vestido?
É professor de inglês e TI do Banrisul. Nos últimos tempos, tem reforçado o personagem Cara da Sunga sendo mestre de cerimônias em eventos culturais, como o Casa Expandida, da Casa de Cultura Mario Quintana, ou como músico, tocando tamborim no Bloco da Laje e na banda Império da Lã.
Não é o dono da Panvel, então?
"Infelizmente, não". Segundo ele, essa é uma lenda urbana que surgiu quando ele corria de madrugada no Parcão, e costumava deixar as chaves em uma unidade 24 horas da farmácia. Outro palpite é que o boato tomou forma porque ele costumava ajudar os moradores de rua da região comprando pequenos produtos de higiene, como sabonete e lâminas de barbear.
Pode interromper a corrida para pedir selfies, etc?
Deve. Eduardo não corre calculando pace, distância e outros índices que podem ser comprometidos por uma interrupção em meio à corrida. Ademais, ele curte confraternizar com as pessoas. Fica agradecido em parar para conversar e tirar fotos.
Já assistiu ao reality show Largados e Pelados (do Discovery Channel, em que um casal é obrigado a passar 21 dias num ambiente selvagem em busca de comida, água e vestes)? Nunca quis participar?
Ele responde rindo:
– Já me perguntaram. Dizem que eu me daria bem, mas assisti a uns episódios e achei uma loucura. Meu problema seria a alimentação. Eu gosto de me alimentar bem, teria problemas em caçar a minha comida.