Os gaúchos se despedem do inverno de 2019 na madrugada da próxima segunda-feira (23), precisamente às 4h50min, no horário de Brasília. A estação teve chuva abaixo do normal e calor acima da média, incluindo a mais alta temperatura durante o inverno em Porto Alegre desde 2004: 36,2°C, no dia 9 de setembro – em 2004, foram registrados 36,5°C e 36,6°C em 6 e 7 de setembro.
Na média, as máximas do inverno de 2019 ficaram 0,9°C acima do normal na Capital. Mas o período também testou a saúde dos gaúchos com frequência considerável de quedas bruscas de temperatura.
De maneira geral, os picos de calor registrados neste inverno não diferem muito do normal para a estação, segundo a meteorologista Carine Malagolini Gama, da Somar Meteorologia. O que pode ter colaborado para a bagunça no guarda-roupas foi a intensidade das ondas de frio, menos comuns quando há influência do El Niño, fenômeno meteorológico que causa o aquecimento das águas do Oceano Pacífico provocando mais chuva e mais calor no Rio Grande do Sul durante o inverno.
— O El Niño está mais fraco, e isso colabora para a entrada de ondas de frio, que em geral não conseguem se estabelecer quando o fenômeno é mais intenso, favorecendo a entrada de chuvas, que acabam elevando a temperatura — explica a meteorologista.
Com El Niño fraco, frentes frias vindas do Pacífico não conseguiam avançar, fazendo com que o frio ficasse estacionado no continente, tanto que houve episódios de frio extremo em regiões onde isso não costuma ocorrer, como em Cuiabá (MT), que registrou 9°C, e a capital paulista, com 6°C, ambas no começo de julho. A menor temperatura deste inverno em Porto Alegre foi no mesmo período: mínima de 2,3°C em 7 de julho.
Assim, foi mais a intensidade do frio do que os picos de calor que obrigaram os gaúchos a manter regatas e blusas de lã lado a lado no armário, causando aquela sensação de que o clima estava maluco. Considerando apenas os registros de Porto Alegre e usando um recorte em relação aos últimos seis invernos anteriores, cinco das 10 menores mínimas dos invernos desde 2013 foram registradas em 2019.
Variação térmica intensa
A frequência das ocorrências de variação térmica intensa também pode ter contribuído para essa sensação de desconforto. O número de vezes que saímos do quentão para o sorvete no intervalo de três dias no mesmo recorte anterior foi a maior desde 2013: oito das 20 ocorrências de maior oscilação térmica — 40% da série analisada — foram registradas no inverno de 2019. O cálculo compara a temperatura máxima de um dia com a mínima do terceiro dia subsequente. Em três das oito ocorrências de 2019 a variação térmica ficou na faixa de 24°C.
Houve casos em que a intensidade da variação foi percebida de um dia para o outro: em 25 de junho, por exemplo, a máxima em Porto Alegre foi de 29,1°C. No dia seguinte, a mínima foi de apenas 7,7°C. Uma diferença de 21,4°C entre um extremo e outro, em apenas 24 horas.
O calorão no final de junho também alimenta outra tese dos gaúchos quando o assunto é clima: o tradicional "veranico de maio" está chegando cada vez mais atrasado. Pelo segundo ano consecutivo, o período de estiagem acompanhado de calor intenso e baixa umidade, não se confirmou em maio.
Apesar disso, a meteorologista Alice Macedo, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), afirma que ainda não há números o suficiente para indicar que isso se converta em uma nova tendência.
— É normal que os fenômenos atrasem ou antecipem um pouco de um ano para outro — diz Alice.