A sigla IAPI quer dizer Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários. A Vila do IAPI, em Porto Alegre, não é um caso isolado: existem outras pelo Brasil, como em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. A história deles remete aos anos 1930 e 1940 e aos planos de habitação popular dos governos nacionais daqueles anos.
Na vila original do IAPI de Porto Alegre, moradores e comerciantes pagavam aluguéis e tinham direito de uso sobre as unidades. O Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários foi responsável pelas obras e encarregado da administração, manutenção e conservação da vila por anos. Daí vem o apelido da localidade — o nome oficial, quase desconhecido, é Conjunto Residencial Passo d'Areia.
As coisas mudaram em 1964, quando foi criado o Banco Nacional da Habitação, trazendo a ideia de casa própria. Ocorreu então a transferência da propriedade aos usuários, dando início ao processo de descaracterização da vila.
Alguns imóveis foram demolidos para a construção de outros, totalmente fora do padrão. Mesmo depois que a vila foi inventariada — um tipo de proteção legal, que obriga os moradores a pedirem autorização para qualquer intervenção nos imóveis —, moradores fazem mudanças que destoam da arquitetura original: garagens improvisadas, pisos adicionais, grades e esquadrias de materiais diferentes. A arquiteta Manuela Costa alerta que obras não autorizadas podem ser embargadas.
O que nem todos sabem é que o IAPI de Porto Alegre não está sozinho. Há conjuntos habitacionais com o mesmo nome espalhadas por todo o país, construídos durante o governo de Getúlio Vargas e de Eurico Gaspar Dutra. Da mesma forma, há, Brasil afora, vilas do IAPB e do IAPC, por exemplo.
Eles remetem ao Estado Novo, período em que ocorria uma significativa expansão industrial e urbana no país, sendo a demanda por moradias operárias parte desse processo. Os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) gerenciavam as aposentadorias e pensões dos trabalhadores antes da fundação do INSS. O IAPI, no caso, era responsável pelos industriários, bem como o o IAPB o fazia pelos bancários, o IAPC, pelos comerciários, IAPM, pelos marítimos, o IAPE, pelos estivadores e O IAPETE, pelos condutores de veículos e empregados de empresas de petróleo.
Um decreto do governo federal em 1937 possibilitou aos IAPs investirem na construção de grandes edifícios e em conjuntos populares, dando condições para os institutos ingressarem no campo habitacional.
O IAPI do Realengo, de 1942, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, é tão antigo quanto o gaúcho: remonta a 1942. Com 2,3 mil unidades, tem casas de diferentes tipos: geminadas, isoladas, apartamentos, todos com preocupação quanto à ventilação e à iluminação — algo bem parecido com o IAPI gaúcho. Também tinha comércio, posto de saúde e até creche.
Algumas Vilas do IAPI estão à frente da porto-alegrense no quesito preservação. O IAPI São Cristóvão, em Belo Horizonte (MG), é tombado pelo patrimônio municipal. Consiste em nove prédios com um número crescente de andares, em formato de ferradura, com área de lazer no meio. Naquela ocasião, a imprensa o denominou como "uma obra que iria baratear para os operários o preço na moradia na capital". Teria capacidade para abrigar uma população de aproximadamente 6 mil pessoas em suas 928 unidades residenciais.
Na Região Metropolitana de São Paulo, o IAPI de Osasco também foi considerado um conjunto habitacional modelo na década de 1950. Destacava-se pelas ruas planejadas e numeradas por letras, com leitos largos e sem muros, casas padronizadas com uma ampla frente de seis a sete metros e jardins. Segundo um relato histórico publicado na Câmara de Vereadores local, os operários do IAPI dispunham de mais espaço e conforto até que a pequena classe média do centro de Osasco.
Já em Campinas, também em São Paulo, o IAPI se destacou como palco de grandes manifestações culturais, principalmente na década dos anos 70, recebendo aos finais de semana apresentações da Orquestra dos Homens de Cor, ensaios das tradicionais escolas de samba e tradicionais rodas de samba e chorinho.
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