Durou apenas meio ano. E da mesma forma que a profissão surgiu nas ruas de Porto Alegre, ela também desapareceu: discreta e repentinamente.
Os chargers eram responsáveis por percorrer de noite as ruas da Capital, recolhendo e carregando a bateria de patinetes elétricas compartilhadas da Grow — fusão das startups Yellow e Grin.
Os carregadores "parceiros", que ganhavam por bateria realimentada, deixaram de atuar ainda em setembro. Foram substituídos por funcionários da empresa, que encerrou as atividades na Capital em janeiro deste ano.
Alguns dos chargers parceiros, que chegaram a receber mais de R$ 5 mil por mês, fizeram investimentos para trabalhar na função. William José dos Santos, 35 anos, comprou um reboque para acoplar no seu Siena.
— Está em casa agora. É um elefante branco — lamenta.
Ele ganhava, em média, R$ 1,6 mil por semana, trabalhando das 19h30min às 5h30min (contando o tempo de deslocamento da sua casa, em Alvorada, a Porto Alegre). Voltou a ser motorista de aplicativo, mas está difícil de alcançar o faturamento que teve no ano passado.
Vinícius Cordeiro de Oliveira, 37 anos, ainda estava pagando prestação da caminhonete que comprou para ser charger: R$ 770 por mês.
— Eu me senti mal. Mas não dá para ficar muito triste, tem que se virar — acrescenta.
Seu irmão gêmeo, Mauricio Cordeiro de Oliveira, gastou R$ 3 mil para fazer uma instalação elétrica na van que usava para que pudesse carregar os equipamentos dentro do próprio veículo.
Serviço ficou menos vantajoso
Vinícius afirma que, pelo meio do ano passado, começou a ficar menos vantajoso trabalhar na área. Com o serviço de charger em evidência, entrou mais gente no ramo, reduzindo a demanda dele. Conta ainda que as condições de trabalho foram dificultadas pela empresa: o tempo para recolher, carregar e devolver as patinetes ficou mais curto, e o número de equipamentos por charger foi limitado, diz ele.
Agora, os irmãos trabalham fazendo entregas para uma gráfica. Vinicius viajou no sábado (1°) para Uruguaiana, Bagé, Dom Pedrito, e retornou no domingo (2). Pegaria a estrada de novo nesta quarta-feira (5). Enquanto isso, sua mãe precisa ficar com os dois filhos gêmeos, de dois anos.
— É uma pena que não deu certo (as patinetes elétricas), era uma boa ideia.
Já Marcus Fenalti, 43 anos, conseguiu cumprir seu objetivo como charger. Queria juntar dinheiro para montar uma loja de presentes na Avenida Osvaldo Aranha.
— Faltava em torno de 30%, 40% do investimento para a loja, e as patinetes me deram o dinheiro — relata.
Vendendo bolsas, carteiras, cosméticos, semijoias e outros produtos com a família, tem mais tempo pra respirar. Ele chegou a trabalhar 84 dias sem folga, dormindo duas, três horas por dia — ajudava a esposa na banca de presentes dia e trabalhava de charger à noite:
— O meu objetivo, eu atendi.