Famoso e já estabelecido nas principais cidades do país, o uso de patinetes e bicicletas compartilhadas ainda não desembarcou com força na maior parte do litoral norte do Rio Grande do Sul. O serviço anda a passos lentos na região, tomada por turistas desde as festividades de final de ano. Caminhando pelos centros ou pelos calçadões de cidades como Tramandaí, Imbé e Xangri-Lá, é comum observar moradores e veranistas utilizando bicicletas, skates e patins, mas nada dos tradicionais equipamentos com cores chamativas e que dependem apenas de alguns toques na tela do celular para operar via aplicativo.
Dos principais destinos dos gaúchos no Litoral Norte, apenas Capão da Canoa e Torres destoam desse cenário. Em Capão da Canoa, basta ficar alguns minutos próximo da ciclovia, localizada no centro, para ver a imagem de pessoas pilotando patinetes se misturar com o cenário de sol, beira da praia lotada e mar quebrando.
Desde o início de dezembro, a empresa Adventure, já conhecida dos porto-alegrenses frequentadores da orla do Guaíba, opera no município. A startup, comandada pelos sócios Eliakim Alvarez, 33 anos, e Jeferson Rebelo, 34 anos, distribui em pontos específicos da região central 30 patinetes que operam no sistema compartilhado, nos mesmos moldes das encontradas em Porto Alegre.
Alvarez afirma que a empresa já atuava em Capão da Canoa nos anos anteriores, mas oferecia o serviço de locação de equipamentos de mobilidade em uma área fechada, dentro de um shopping. Neste ano, a Adventure conta com dois tipos de operação. Um deles é o de aluguel de meios de transporte, como patinetes, triciclos, bicicletas e carrinhos de crianças. Nessa modalidade, os clientes pagam o valor aos funcionários que ficam na Praça do Farol, cuidando da liberação dos equipamentos. A segunda operação da empresa é a das patinetes, compartilhadas, que, segundo Alvarez, é o passo tecnológico da Adventure neste ano no litoral:
— O compartilhado está andando bem, está fluindo e a tendência é sempre melhorar e aumentar a nossa frota.
Capão da Canoa
Um dos locais com maior concentração de patinetes disponíveis aos usuários em Capão da Canoa é o tradicional letreiro que carrega o nome do município. Muitos pedestres a caminho da praia passam pelo local e dão aquela espiadinha nos equipamentos, lendo o folheto de informações. Alguns instalam o aplicativo na hora e já saem andando no veículo de duas rodas. Foi o caso do casal Laura da Silveira, 22 anos, e Denner Castro, 24 anos. Moradores de Montenegro, no Vale do Caí, os namorados aproveitaram a estadia em Capão da Canoa para experimentarem o serviço pela primeira vez.
— A gente estava ansioso por esse momento. Sempre ficávamos esperando para ir para Porto Alegre, porque a gente mora na região do Vale do Caí, que não tem bicicletas e patinetes compartilhados. Então, foi muito legal — diz Laura.
Nos primeiros segundos em cima do equipamento, o casal demonstrava certo cuidado ao guiar, estudando a ferramenta. Alguns minutos depois, os dois desfilavam pela ciclovia com destreza. Castro arriscava zigue-zagues arrojados na pista. Em meio a risos, a dupla confessa que a experiência também serviu como uma espécie de teste para adquirir o veículo elétrico em um futuro próximo.
Patinetes, bicicletas e pedestres dividem espaço na ciclovia do município. Desviando das poças d'água de uma pequena chuva que atingiu a cidade na semana passada, o representante comercial Clécio Crestani, 53 anos, morador de Caxias do Sul, disse não se incomodar com o novo meio de transporte:
— Eu caminho toda hora na rua. Nunca me atrapalhou, acho que tem espaço para todo mundo, com educação.
Assim como a maioria das novidades na área de mobilidade, as patinetes também ganharam alguns críticos em Capão. Morador de Porto Alegre, o bancário aposentado Hamilton Milanesi, 79 anos, faz uma observação sobre o uso do equipamento.
— Eu tenho alergia a isso aí. Patinete na pista de ciclismo, tudo bem, mas quando vem pra caçada é um horror. Tem dois ali ó — reclamava, apontando para a calçada.
Em Torres, serviço entrou em operação nas vésperas de 2020
Uma das maiores empresas do setor de compartilhados, a Grow — responsável por patinetes e bicicletas das marcas Grin e Yellow — começou a operar em Torres em 29 de dezembro, após a prefeitura editar decreto regulamentando o serviço, dois dias antes.
"Estamos muito satisfeitos com a operação em Torres, que desde o primeiro dia apresenta números acima do esperado. Já dá para perceber que a cidade recebeu bem o serviço de micromobilidade, com destaque para as patinetes. A infraestrutura do município, com ciclovias e ruas bem asfaltadas, contribui positivamente", disse, por meio de nota, a analista de Relações Governamentais e Institucionais da Grow, Renata Greco.
O secretário de Turismo de Torres, Fernando Nery, comentou que o início da operação da Grow gerou protesto de um empresário que aluga patinetes em ponto fixo da cidade. Segundo Nery, a insatisfação de parte de moradores e veranistas é normal em casos de novos serviços. No geral, o secretário diz que a aceitação dos equipamentos entre os veranistas é boa.
— É uma coisa nova e, obviamente, gera opiniões positivas e negativas, mas, equilibrando na balança, fazendo um feedback final, eu acredito que, pelo menos no nosso município, o serviço está se apresentando, neste momento, com muito mais qualidade do que propriamente defeitos — avalia Nery.
Em poucos dias de operação, as patinetes já estão inseridas na paisagem da região central de Torres.
— Tomara que tenha no inverno também. Como morador, eu gostei muito da novidade — relata o economista Renan Peres, 23 anos, frequentador da Prainha.
Desde os Molhes, ao lado da divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os veículos elétricos são vistos circulando na ciclovia, estacionados nas calçadas à espera de novos condutores e muitos dividindo espaço com os automóveis nas estreitas ruas da cidade, o que incomoda a estudante Juliana Silveira, 23 anos.
— Tá bem perigoso, porque na ciclovia tem gente caminhando ou correndo e no trânsito os carros não respeitam. Quem sabe com o tempo haja uma adaptação com o novo meio, mas agora tá um pouco confuso ainda — afirma.
A ciclovia de Torres é a maior do Litoral Norte. Em seus 2,5 quilômetros, são vistos alguns buracos no piso, pintura em vermelho da faixa desbotada e muita areia, devido À proximidade da praia. Apesar de não ser recomendado pela empresa idealizadora do serviço, é comum ver usuários circulando juntos, no mesmo patinete com outra pessoa.
Edgar e Rogério Palamar atravessaram — cada qual com seu veículo — os balneários do município sobre as duas rodas.
— Eu ainda estou apanhando um pouco, mas quem anda de bicicleta anda nesse patinete — compara o programador, de 42 anos.
Enquanto o morador de Bento Gonçalves se equilibra sobre a tábua, próximo à Praia Grande, o filho opera o celular para liberar mais um veículo e continuar a agradável viagem sobre a brisa do mar.
— O serviço é bem bom, o aplicativo funciona muito bem. É muito fácil de encontrar, a gente saiu do hotel e já encontrou dois. Acho mais legal do que bicicleta, tanto que quase não estou vendo elas por aqui esse ano — analisa o estudante, de 21 anos.
A percepção do jovem foi a mesma da reportagem de GaúchaZH. Em dois dias circulando pela cidade, nenhuma bicicleta compartilhada foi vista nas faixas exclusivas para o meio de transporte, ou em qualquer outro ponto do balneário. Com velocidade máxima de 20km/h — marcados em um painel por entre os punhos onde o condutor maneja a patinete —, o veículo garante inclusive passeios mais audaciosos. Como fez o técnico em enfermagem, Luciano de Abreu Dias, 20 anos, que subiu os 80 metros do Morro do Farol, de onde é possível ter uma vista panorâmica da praia.
— Subiu bem, chegou à metade da velocidade limite. Eu nunca tinha andado, nem em Porto Alegre. É muito show — finaliza.
Prefeito de Bento Gonçalves, na Serra, Guilherme Pasin aproveitou a patinete próximo ao Passo de Torres.
— Eu uso sempre que viajo, porque para a minha cidade não é viável, devido ao relevo das ruas. Noto também que, com o tempo, as pessoas estão mais educadas, não abandonando no meio da rua, levando a um local que não atrapalhe. É uma mudança cultural — avalia o gestor, ao lado da filha Ana Beatriz, quatro anos.
Questionada sobre a possibilidade de expansão do serviço de compartilhados para outros municípios do Litoral Norte, a Grow informou que "os estudos para ampliação de suas operações para outras cidades são permanentes", mas não divulgou quais cidades poderão contar com esses meios de transporte: "No entanto, a política de expansão da empresa leva em conta uma série de aspectos, como a demanda de pessoas que precisam percorrer curtas distâncias ao longo do dia, topografia favorável, estrutura de ciclovias e ciclofaixas, regulamentação e segurança, entre outras. Portanto, ainda não há definição para atuação em outras cidades do Estado".
Como usar o serviço de compartilhados em Capão da Canoa
Aplicativo
- Onde achar? A adventure opera os compartilhados por meio do aplicativo FlipOn, que está disponível nas plataformas App Store e Google Play.
- Como alugar uma patinete? Por meio do aplicativo FlipOn, o usuário se cadastra, encontra e desbloqueia a patinete mais próxima.
- Quanto custa o aluguel das patinetes? O usuário paga R$ 3 para desbloquear a patinete e R$ 0,50 por cada minuto de utilização do equipamento. Pagamento com cartão de crédito.
- Qual o horário de funcionamento? Das 8h30min às 21h.
- Há alguma restrição de uso? Apenas maiores de 18 anos podem realizar o cadastro para usufruir do serviço. A Adventure recomenda apenas uma pessoa por patinete por vez.
- Onde é permitido circular com as patinetes? Os usuários podem circular com o equipamento no centro da cidade, no perímetro onde existe ciclovia, que pode ser visualizado no app. Saindo da área, o usuário não consegue finalizar a viagem.
Aluguel
- Onde achar? Praça do Farol
- O quê? aluguel de bicicletas e equipamentos elétricos, como patinetes, triciclos e carrinhos para crianças e bicicletas duplas
- Quanto custa? Cliente escolhe o equipamento e acerta aluguel com os funcionários da empresa. Bicicletas: R$ 25 (meia hora) e R$ 35 (uma hora). Equipamentos elétricos custam R$ 15 por 10 minutos. Pagamentos em dinheiro e cartões de crédito ou de débito
- Qual o horário de funcionamento? terça a quinta, das 15h às 22h. De sexta a domingo, das 15h às 23h
Como usar o serviço de compartilhados em Torres
- Onde achar o aplicativo? Os serviços de compartilhados da Grow em Torres operam por meio dos aplicativos da Grin e da Rappi, disponíveis nas plataformas App Store e Google Play.
- Como alugar uma patinete? Por meio dos aplicativos, o usuário se cadastra, encontra e desbloqueia a bicicleta ou a patinete mais próxima. A área de cobertura, onde os equipamentos podem ser deixados após o uso, está disponível nos aplicativos.
- Quanto custa o aluguel das patinetes e das bikes? O usuário terá de desembolsar R$ 2 a cada 20 minutos para as bikes. Para andar nas patinetes, são necessários R$ 2 para desbloquear +R$ 0,40 a cada minuto de uso. Os créditos no Grin App podem ser comprados com cartão de crédito, boleto e transferência bancária. Em dinheiro, em estabelecimentos parceiros, como bancas de jornal e lojas, identificados no mesmo aplicativo. No aplicativo da Rappi, as formas de pagamento são cartão de crédito e débito.
- Qual o horário de funcionamento? As bikes e patinetes poderão ser usadas de segunda a segunda, 24 horas por dia.
- Há alguma restrição de uso? Apenas maiores de 18 anos podem realizar o cadastro para usufruir do serviço. A empresa recomenda apenas uma pessoa por patinete por vez.
- Onde é permitido circular com as patinetes? Na área central do município, entre o Parque do Balonismo, o Morro do Farol e a Praia da Guarita.
Como está a situação do serviço em outros municípios do Litoral Norte
Tramandaí
Secretário de Segurança, Direitos Humanos e Transporte de Tramandaí, Claudiomir da Silva afirma que a cidade não deve contar com o serviço de compartilhados nesta temporada. Silva destaca que o município chegou a ser procurado por uma empresa, mas as tratativas não avançaram. O secretário entende que não existe demanda pelo serviço na cidade, mas projeta que o cenário poderá mudar no próximo verão.
Xangri-Lá
O município informou que está negociando com a empresa Grow para oferecer o serviço a moradores e veranistas. O secretário de Turismo da cidade, Eduardo Jardim, destaca que a prefeitura está trabalhando em um decreto para regulamentar o serviço, usando como base as normas editadas em Porto Alegre e em Torres. Como o processo de liberação está em fase final de elaboração, o secretário projeta o início da operação dos compartilhados em Xangri-Lá ainda em janeiro.
Imbé
O prefeito do município vizinho de Tramandaí informou que ainda não foi procurado por empresas que oferecem esse tipo de serviço, mas salientou que está interessado em oferecer esses equipamentos a moradores e usuários. O prefeito de Imbé, Pierre Emerim, não descarta a possibilidade de a cidade contar com esse tipo de meio de transporte ainda nesta temporada. Segundo Emerim, basta alguma empresa se apresentar e atender à legislação.