O principal serviço de aluguel de patinetes elétricas de Porto Alegre não estará mais disponível para usuários na cidade. Conforme comunicado divulgado nesta quarta-feira (22), a Grow — fusão das startups Yellow e Grin — "está encerrando" a operação dos veículos compartilhados na Capital, assim como parou de oferecer as bikes da Yellow.
Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre (EPTC), a Grow afirmou que, até quinta-feira (23), todos os veículos serão recolhidos da cidade.
As patinetes deixam de operar também em Torres, no Litoral Norte, e em outras 12 cidades: Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campinas (SP), Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Guarapari (ES), Santos (SP), São Vicente (SP), São José dos Campos (SP), São José (SC), Vitória (ES) e Vila Velha (ES).
"As medidas fazem parte de um processo de reestruturação da empresa, presente em sete países da América Latina e que já realizou mais de 20 milhões de corridas", afirmou a empresa por e-mail. "A decisão foi tomada para que a companhia promova um ajuste operacional e siga prestando seus serviços de forma estável, eficiente e segura para os usuários."
O serviço permanece sendo oferecido apenas em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, "cidades que possuem maior oportunidade de crescimento neste momento e onde existe uma ampla possibilidade de transformar a cultura da mobilidade", de acordo com a empresa. "Esse é o retrato do momento que a Grow atravessa, com base em seu planejamento estratégico para 2020. No futuro, a empresa pode ampliar novamente as operações."
Conforme comunicado, as bicicletas da Yellow "foram recolhidas das ruas para que sejam submetidas a um processo de checagem e verificação das condições de operação e segurança. A empresa está em busca de parcerias públicas e privadas para fortalecer e expandir sua operação."
O anúncio ocorre duas semanas depois de a Lime, que operava patinetes, deixar de atuar no país.
Segundo a Grow, a decisão "foi motivada por razões operacionais" e "é muito dolorosa". "Amamos as nossas cidades, os nossos usuários e a nossa missão de tornar a micromobilidade acessível para todos", diz a nota.
Usuários que adquiriram créditos e não utilizaram terão os valores estornados no cartão de crédito, garante a empresa. Já os pontos de venda e usuários que não possuem cartão devem entrar em contato com o suporte da empresa, pelo e-mail suporte@ongrin.com, para que os valores sejam transferidos.
O serviço
Em janeiro, as patinetes amarelas passaram a receber a cor laranja, resultado de uma parceria entre a empresa Grow e a plataforma de entregas Rappi, mas a mudança foi encerrada devido a reestruturação anunciada nesta quarta.
O compartilhamento de patinetes começou em fevereiro do ano passado em Porto Alegre. O aluguel dos veículos era feito por meio de aplicativos. O serviço era tido como fonte de renda por alguns parceiros da empresa, que atuavam como "chargers", que ganhavam para recolher, carregar e devolver as patinetes na Capital.
Um deles é Marcus Fenalti, que buscava alternativas para complementar a renda quando descobriu o aplicativo de aluguel de patinetes. Ele fez cadastro e foi um primeiros parceiros da Grin (agora Grow) em Porto Alegre.
No começo do ano passado, Fenalti recebeu treinamento e um conjunto de carregadores da empresa para realizar os carregamentos. Com uma kombi em que acomoda entre 40 e 50 equipamentos, realizava as coletas pelo menos cinco vezes por semana. Ele chegou a deixar para trás o antigo emprego para focar nas coletas. O que lucrava com a nova atividade investia na loja que mantém com a esposa.
Ele conta ainda que, em setembro, quando saia para recolher os veículos, percebeu que foi desconectado da empresa:
— Nos dispensaram sem justificativa alguma. Eu estava na rua trabalhando e percebi que a conexão com eles, que era feita pelo app, não funcionava mais. Quando os procurei, só me disseram que a política da empresa tinha mudado.
Nesta quarta, ele afirma que recebeu o comunicado do encerramento por e-mail.
— Por causa da lucratividade baixa, sempre houve a suspeita de que iriam encerrar a atividade — disse. — Não foi o meu caso, mas sei que teve gente que saiu com dívidas, porque investiu no serviço — afirmou.
Decisão surpreendeu a EPTC
O gerente de desenvolvimento e inovação da Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre (EPTC), Augusto Langer, conta que foi comunicado pela empresa sobre a decisão no começo da tarde desta quarta, por telefone.
A Grow deve formalizar o encerramento junto ao poder público nos próximos dias, segundo Langer.
— Foi uma surpresa. Ao longo de 2019, recebemos dois relatórios deles sobre a utilização do serviço em Porto Alegre e a receptividade era muito boa, tanto quantidade de uso quanto em quilômetros rodados. Mas não temos acesso as informações sobre lucratividade da empresa — disse o gerente de desenvolvimento.
Questionada se a regulamentação do serviço em cidades do país poderia ter influenciado a decisão, a empresa negou. Em Porto alegre, um decreto foi assinado em setembro pelo prefeito Nelson Marchezan.
"A Grow mantém diálogo constante e colabora com o poder público, em todas as cidades em que atua, para a definição de normas que garantam o acesso das pessoas às novas alternativas de transporte, além de trazer harmonia entre os modais e segurança para todos, sejam ou não usuários."
Confira a íntegra da nota divulgada pela empresa:
"Estamos encerrando nossas operações de bikes Yellow e patinetes Grin e Rappi em Porto Alegre.
Essa decisão foi motivada por razões operacionais e é muito dolorosa para todos nós, porque amamos as nossas cidades, os nossos usuários e a nossa missão de tornar a micromobilidade acessível para todos.
Sentimos muito por isso e esperamos retornar no futuro.
Você ainda encontrará nossas patinetes em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba."