Caso seja aprovado sem alterações pelo Conselho Municipal de Transportes Urbanos (Comtu), o reajuste no valor da passagem de ônibus em Porto Alegre — proposto pela entidade que representa empresas que operam o transporte público na Capital — será o maior desde 2016. Naquele ano, a tarifa passou de R$ 3,25 para R$ 3,75. O aumento proposto pelo Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa) também é de R$ 0,50, passando de R$ 4,70 para R$ 5,20.
Conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o aumento seria de 10,64% — mais que o dobro da inflação estimada para o período, de 4,53%.
A proposta de aumento de R$ 0,50 no valor da tarifa se baseia em um estudo realizado pelo Seopa e encaminhado à prefeitura. Nas próximas semanas, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) deverá concluir o cálculo e propor o valor do reajuste. Depois, as propostas são enviadas ao Comtu.
Conforme o Dieese, de 1994 a 2019, o valor da tarifa na Capital registrou aumento de 1.170,27%, mais que o dobro da inflação do período, que foi de 455,23%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE.
"Cabe destacar que, no mesmo período, os salários dos motoristas nem de perto acompanharam o ritmo de aumento das tarifas", diz o departamento. O reajuste acumulado do piso dos motoristas foi de 515,13%.
Nesse contexto, o Dieese comparou o piso do motorista e o valor da tarifa de ônibus nas últimas duas décadas e meia. Com a remuneração de hoje, o profissional compra menos da metade do número de passagens (573) que comprava em 1994 (1.184), diz o órgão.
A prefeitura argumenta que a tarifa de ônibus "não guarda relação com a inflação". Conforme o secretário extraordinário de Mobilidade Urbana da cidade, Rodrigo Mata Tortoriello, o reajuste é puxado pelo preço de diesel e pelo valor da mão de obra, que "representam 70% do custo total do serviço de ônibus".
— Em parte, concordo com o Dieese que o valor é muito alto, mas a análise é um pouco mais complexa, não pode ser simplista. A tarifa de Porto Alegre, assim como em outras cidades, é calculada dividindo o valor total do serviço entre as pessoas que pagam por ele. E o número de pagantes, como temos visto, vem diminuindo ao longo dos anos — afirma.
Proposta de empresas cita custos para compra de novos ônibus e do diesel
Entre os principais fatores que embasaram o pedido do Seopa, estão o aumento do custo de compra de novos ônibus (17,34%) e do diesel (8,78%). Há destaque, ainda, para a queda de 4,11% no número de passageiros em 2019 e a previsão de reajuste de 4,48% nos salários dos rodoviários — os trabalhadores pediram 7%. A data-base da categoria é 1º de fevereiro.
O estudo foi protocolado em 8 de janeiro, embora o valor de reajuste tenha sido divulgado somente nesta quinta-feira (23).
Em fevereiro de 2019, a passagem foi reajustada de R$ 4,30 para R$ 4,70.