Entre as mais caras do país, a passagem de ônibus em Porto Alegre encareceu mais que o dobro da inflação entre 1994 e 2019, conforme levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado em 16 de fevereiro. O estudo mostra que, caso os R$ 4,70 propostos pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) sejam aprovados, a tarifa na Capital irá registrar um aumento de 1.170,27%, mais que o dobro da inflação do período medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC/IBGE), 455,23%. A prefeitura contesta.
Item mais significativo na composição da tarifa (veja quadro abaixo), cerca de 50%, o salário dos rodoviários nem de longe acompanhou o aumento. Segundo o Dieese, o reajuste acumulado do piso dos motoristas foi de 516,14%.
Já o valor proposto para 2019 também destoa da inflação para o período. Representa um reajuste de 9,3% para uma inflação de 3,57%. Se tarifa de R$ 4,70 for aprovada, passagem de ônibus terá aumento de 91,8% em 10 anos, diz o departamento.
Prefeitura de Porto Alegre contesta informação do Dieese
Em nota encaminhada na noite desta quarta para GaúchaZH, a prefeitura de Porto Alegre contestou os dados apresentados pelo Dieese. Confira na íntegra o conteúdo:
"Primeiramente o Dieese não acertou ao informar a inflação medida pelo INPC deste 1994 (jul/94) até jan/2019. Nesse período a inflação acumulada pelo INPC correspondeu a 509,34%. Depois, o salário dos motoristas em jul/94 era de R$ 350,00. A partir de fev/2019 o salário do motorista passou para R$ 2.698,71, um aumento de 671,06%. Portanto, foi acima do INPC que deve ser o balizador do reajuste da categoria.
Ainda, o índice inflacionário que guarda correspondência com a maior parte dos itens de custo que compõe a tarifa de ônibus é o IGPM, especialmente, preço do veículo, preço do litro do óleo diesel e derivados, preço de pneus/recapagens, afetam itens que juntos correspondem a 50% do custo tarifário. O IGPM desde jul/94 até jan/2019 variou 667,05%.
Por fim, cabe ressaltar que o custo quilométrico, numerador da fórmula, variou desde jul/94 até o presente 570,22%; portanto, abaixo do IGPM e muito próximo do INPC (embora não guarde correlação com este índice). O problema não está no custo quilométrico, mas no denominador da fórmula, o IPK, que no mesmo período despencou 47,30%!"
Comtu analisa propostas nesta quinta-feira
O Conselho Municipal de Transportes Urbanos (Comtu) irá analisar nesta quinta-feira (21) as duas propostas de valores da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC): a previsão inicial, que eleva os atuais R$ 4,30 para R$ 4,75, e aquela que prevê o incremento de passageiros advindo do fim da gratuidade para idosos entre 60 e 64 anos, de R$ 4,70. Se não houver objeções, a nova tarifa será encaminhada para aprovação do prefeito Nelson Marchezan até o fim do dia.