A aparição de morcegos tem afligido moradores do Centro Histórico de Porto Alegre. Em um prédio da Rua Demétrio Ribeiro, dezenas foram vistos pelos corredores e até dentro dos imóveis nas últimas semanas. A vendedora Amanda Hendz Silva, 25 anos, já estava deixando as janelas fechadas desde dezembro, quando começou a ouvir o barulho dos animais e sentir o cheiro das fezes. Na semana passada, ela decidiu deixar seu apartamento por uns dias: está na casa da mãe aguardando a situação se normalizar.
— Está caótico. Esses dias eu fui no prédio e não consegui entrar no apartamento porque no corredor tinha vários — diz.
Embora assuste os moradores, a prefeitura garante que a aparição de morcegos é normal nesta época do ano. Bióloga da Secretaria de Meio Ambiente da Capital (Smams), Soraya Ribeiro, explica que o morcego mais comum na cidade nesta época do ano é uma espécie chamada Tadarida brasiliensis, conhecida como morceguinho-das-casas, que se alimenta de baratas, mosquitos, cupins, entre outros — não de sangue. Eles migram para a região central da cidade em outubro e se instalam em forros e telhados, lugares quentes com muitos insetos, para que as fêmeas tenham filhote por volta do mês de dezembro. Em janeiro, esses filhotes começam a aprender a voar, e é por isso que a espécie é mais vista, especialmente, no Centro Histórico, onde há mais prédios antigos com telhados altos, muitas vezes com avarias por onde os bichos conseguem entrar.
A bióloga destaca que é proibido matá-los: são animais silvestres protegidos por lei. Soraya recomenda que os moradores não tentem interferir na colônia e alerta:
— Pode criar um problema maior, de emergência sanitária. Tem gente que envenena, e daí eles ficam desnorteados, podem cair nas casas, a pessoa pode tentar pegar e ser mordida, ou algo parecido.
A recomendação dela é aguardar a migração dos morcegos, que deve ocorrer no mês de fevereiro. É quando eles deixam a área central e voltam para matas, cavernas ou demais locais isolados. Então, se o morador quiser, pode fazer a vedação dos telhados e forros para que nenhuma colônia se instale ali na próxima primavera.
Soraya ressalta que, no ano passado, a pasta monitorou uma colônia de 10 mil morcegos no forro de um prédio comercial na Rua Voluntários da Pátria e que todos deixaram o local ainda durante o verão. Nesta temporada, não houve apontamento de alguma colônia significativa. Ela afirma que 2020 não têm mais incidência do que nos outros anos, e que a tendência é até mesmo de diminuir o número de morcegos, porque as pessoas fecham os forros ou até mesmo matam os animais.
— Esse animal faz um serviço ambiental, porque come o inseto: mosquito, barata e cupim. As pessoas enxergam como um passador de doença, mas na verdade ele não suga sangue. Essa nossa espécie é uma espécie urbana — acrescenta.