A luta pelos direitos da comunidade LGBT+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e o combate ao preconceito levaram milhares de pessoas ao Parque Farroupilha (Redenção) neste domingo (8). A Parada Livre de Porto Alegre chegou à sua 23ª edição com o tema "Sem vergonha de ser quem somos". Realizado desde 1997, o evento também busca celebrar as conquistas da comunidade, ressaltando a importância de evitar retrocessos. As atividades tiveram início às 14h e devem se estender até as 22h.
A programação começou com discursos de líderes dos movimentos sociais que organizam o encontro de forma autônoma e independente. Cerca de 20 grupos estão à frente da Parada Livre deste ano. Entre eles, o Nuances — Grupo Pela Livre Expressão Sexual, a Igualdade RS — Associação de Travestis e Transexuais do Estado —, e a Liga Brasileira de Lésbicas do Estado (LBL/RS).
— O principal objetivo do evento é se articular pelos direitos de existência, identidade de gênero, orientação sexual, liberdade de sexualidade e pela democracia, principalmente. Se articulando contra qualquer tipo de lei e de política que possa ser contra essa diversidade — comenta Raquel Basilone, integrante do Nuances e da Jornada Lésbica Feminista Antirracista.
Além dos shows de artistas LGBTI+, o encontro foi marcado pela marcha que tradicionalmente faz a volta no parque. Em 2019, a parada celebra ainda os 50 anos do Levante de Stonewall, uma das primeiras manifestações pela diversidade sexual e de gênero e que inspirou a organização de paradas e marchas contra o preconceito no mundo inteiro.
Desde junho deste ano, diversos eventos foram realizados visando arrecadar fundos para a Parada Livre. Uma campanha de financiamento coletivo também foi mobilizada para custear o ato.
Para Lauri Silva, 33 anos, o encontro é uma forma de movimento cultural e político, importante para mostrar a força do público LGBT+ na luta e na resistência por seus direitos. Doutoranda em História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisadora de movimentos da comunidade e de mulheres, Lauri participou da Parada Livre também para comemorar os resultados dessa luta, como a criminalização da homofobia aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 13 de junho deste ano.
— A gente vinha buscando isso desde a década de 1980. Foi superimportante para o cenário obscuro atual. Houve um avanço também em várias outras pautas, como a mudança do nome social para o civil. A gente está caminhando, mas é uma luta contínua, assim como a dos negros e a das mulheres — comenta a pesquisadora de Rondônia, que reside em Porto Alegre há nove meses.
Com o mesmo propósito, o artista Augusto Lisboa, 51 anos, radicado em São Paulo, voltou à Capital para participar da festa vestindo a sua personagem Cecília Miranda. A indumentária do gaúcho chamava a atenção em meio à multidão que circulava sob o sol forte na Redenção. Ele explica que a roupa apresenta a especialidade de seu trabalho artístico, focado em criar obras com objetos recicláveis.
Produzida com muito brilho e maquiada com cores em referência à bandeira arco-íris, Paola Castro Sparrenberger, 26 anos, retornou à Parada Livre da Capital depois de quatro anos morando em Buenos Aires. A cabeleireira de São Leopoldo participou do evento pela festa e pela luta de direitos, mas também pela celebração das conquistas da comunidade LGBT+:
— A cada ano conseguimos avançar mais, falo por experiência própria. Mas uma coisa que sempre digo é que a gente também precisa dar respeito às pessoas, se a gente quer ser respeitada. Se cada um fizer a sua parte, a gente pode chegar a níveis de preconceito bem menores.