Mais de 30 Papais Noéis e Noeletes buscavam refúgio na sombra da imensa chaminé da Usina do Gasômetro no final da manhã desta quarta-feira (25) para tentar o impossível: conseguir algum alívio do solaço inclemente e do calor que superou com folga os 30°C. A turma se preparava para um desfile surpresa pela Orla Moacyr Scliar, uma das atrações do Natal Alegre 2019, promovido pela prefeitura da Capital.
Ao volante de um Calhambeque 1964, o empresário Everton Alfonsin, 49 anos, vulgo Papai Noel Caco, puxava, buzinando, a festiva fileira de personagens trajados em vermelho e branco. Todo ano, Caco se impõe o desafio de distribuir 10 mil brinquedos – entre doações e itens que ele compra com o próprio dinheiro. Só em 2019, destinou R$ 15 mil do seu bolso para alegrar crianças de mais de 14 cidades do Estado. A prática teve início há 28 anos, quando nasceu sua filha Karina. Dada a saúde frágil do bebê, o pai fez uma promessa: se Karina se recuperasse, ele se dedicaria aos pequenos pelo resto da vida. Deu certo.
– Natal, para mim, representa solidariedade. Fazer o bem sem olhar a quem – define Caco.
Raimundo Vinkoski, 74 anos, um dos participantes do cortejo, trabalhou durante toda a terça-feira (24) e avançou pela madrugada do feriado, pegando no sono apenas às 4h30min. Dormiu pouco mais de três horas e já se fardou outra vez. De calça e casaco com boa quantidade de pelúcia, luvas e pesados coturnos pretos, não reclamava. Protegido com filtro solar fator 50, andava de braço com a noelete Pâmela Santos, bem mais adequada à estação com um vestido curto e sapatilhas. Noelete, explica Pâmela, está abaixo da Mamãe Noel na hierarquia natalina, mas é também muito importante:
– Eu ajudo o Papai Noel a distribuir os presentes!
O gerente comercial Edison Bezerra, 58 anos, de Bento Gonçalves, passeava com a família à beira do Guaíba quando foi surpreendido pela fartura de Noéis. Correu com a neta, Emilly, quatro anos, para fazer fotos. A menina parecia um tanto confusa diante do numeroso time de bons velhinhos. Na véspera, em um shopping de Porto Alegre, ela havia conversado com um Papai Noel, revelando seus desejos para a noite tão aguardada. Ganhou exatamente o que pediu.
– Uma maquiagem, um óculos de mergulho e uma mochila – enumerou Emilly, que tirou os óculos escuros para mostrar que um dos presentes já estava sendo aproveitado: – Meus olhos estão pintados!
O segundo desfile da trupe de Papais Noéis e Noeletes estava previsto para as 17h, na Redenção. Contudo, o cortejo atrasou e começou uma hora depois do previsto, quando a intensidade do sol estava mais fraca e o clima mais tolerável para o uso da indumentária natalina – propícia para o inverno europeu.
Os irmãos Heron Santos, 10 anos, e Una Santos, sete anos, chegaram ao local no horário divulgado pela organização do evento. Quando um trenzinho repleto de bons velhinhos apontou junto ao Monumento ao Expedicionário, eles correram para a área de passeio do parque para verem a grande estrela do Natal de perto.
— Na primeira vez, eles passaram correndo — diz o guri que não parecia muito chateado com a situação, apesar da espera, já que ganhou o que deseja: um patins vermelho, verde e preto com o desenho de uma caveira.
As primas Marina e Luiza Corrente, quatro e cinco anos respectivamente, estavam encantadas com o cortejo a pé. Acompanhadas dos responsáveis, elas tentavam correr para acompanhar o ritmo do cortejo, ao mesmo tempo em que queria parar para apontar e analisar cada detalhe do desfile.
Luiza, a mais eloquente, gostou muito de ver os ajudantes dos bons velhinhos que estavam nas pernas de pau:
— Os duendes, que ajudam o Papai Noel, eram altos. Foi legal ver de perto.