Cerca de 700 imigrantes reuniram-se no Gigantinho nesta quinta-feira (17) para o Grande Magal de Touba, principal celebração religiosa senegalesa organizada em Porto Alegre. Ao longo do dia, eles lembraram as palavras do líder religioso Ahmadou Bamba Mbacké — a data, definida pelo calendário lunar, lembra o início do exílio dele em Gabão, em 1895, forçado pelo governo colonial da França.
Vestindo roupas tradicionais, também dedicaram-se a proferir e dançar cânticos na língua wolof e a compartilhar refeições fartas: pela manhã, fizeram sanduíches com carne de carneiro e, de almoço, um prato semelhante ao carreteiro.
— No Magal, ninguém pode ficar com fome, ninguém pode ficar triste, nem bravo. Temos de lembrar que ele (Ahmadou Bamba) passou mais sofrimento que nós, mas nunca desistiu de lutar pela nossa liberdade — explica Bamba Toure, relações públicas da Associação de Senegaleses de Porto Alegre.
Nem a chuva que caiu ao longo do dia desanimou os imigrantes. Toure acrescentou:
— Mesmo se chover fogo a gente vai comemorar esse dia.
Mbay Gueye, 32 anos, está há quase quatro anos na Capital, onde trabalha como cozinheiro. Deixou no Senegal sua filha de oito anos, para quem manda parte do seu salário, além do seu pai e mãe. Ainda não conseguiu viajar para visitá-los — está juntando dinheiro para isso. Mas se sente mais perto da sua terra durante o Grande Magal.
— Hoje fico muito feliz, parece quase que estou no Senegal. Vi muitos amigos que há muito tempo não via — afirma.
Filipe de Césaro, 27 anos. doutorando na UFRGS, participou pela segunda vez de um evento do tipo.
— Me parece que a emoção deles é ainda maior por estarem em outro continente. Me emociono também.
Filipe está fazendo sua tese de doutorado em Antropologia sobre imigrantes senegaleses e foi convidado pelo líder da associação, Mor Ndiaye, para dar palestra, em português, sobre a história de Ahmadou Bamba.