Imigrantes cruzam continentes levando na bagagem costumes e, alguns deles, habilidades musicais. Artistas que vieram ao Brasil em busca de oportunidades ganham a chance de mostrar seus talentos no Projeto Imigrantes, que reúne músicos haitianos e nigerianos. Eles se apresentam nesta sexta-feira, às 19h, no Teatro Unisinos (Av. Nilo Peçanha, 1.600), com entrada gratuita.
Afastar o estereótipo de desamparo de quem abandonou países em situação de pobreza e enxergar um potencial artístico nessas pessoas foi a proposta da Sigmund Records, gravadora mantida por estudantes e professores do curso de Produção Fonográfica da Unisinos. Criado em 2013, o selo já trabalhou com nomes reconhecidos da cena gaúcha. Neste ano, decidiu focar em quem precisa de um empurrão para mostrar os seus dotes no palco.
— Nesses grupos de imigrantes, a gente vê pessoas com enorme cultura, com muito talento, que talvez estejam trabalhando em subempregos. Quisemos dar a oportunidade para mostrar como eles podem fazer coisas artísticas aqui no Brasil — diz o professor da Unisinos Charles di Pinto, coordenador da Sigmund Records.
Gravações estão nas plataformas digitais
Um processo seletivo foi aberto em maio para receber composições de músicos do Haiti e de países da África que vivem no Rio Grande do Sul e em outros Estados. Foram escolhidos nomes que já têm certa fama, como Lumi, semifinalista do The Voice Brasil em 2016, e Alix Georges, conhecido por criar a versão francesa do Canto Alegretense. Mas também se descobriu quem ainda batalha no mercado musical, como Idowu Akinruli, Sonson, Najeda, SMOG e a banda Surprise69.
"As pessoas pensavam: 'Esse africano vai cantar o quê?"
LUMI, CANTOR NIGERIANO
Nove músicas foram gravadas — uma de cada artista e mais outras duas em que eles dividem os vocais. As composições misturam gêneros como pop e rap à música folclórica do Haiti e da Nigéria. Com orientação de alunos e produtores ligados à Sigmund Records, as gravações ocorreram no Estúdio Soma, casa que carrega no currículo discos de Armandinho, Nenhum de Nós e Nei Lisboa. Há participações especiais com artistas locais, como Frank Jorge, que estará presente no show de hoje. Todas as músicas serão lançadas nas plataformas de streaming.
Há 13 anos morando em Porto Alegre, o nigeriano Lumi, 35 anos, enfrentou a realidade da maioria dos músicos: a dificuldade em ser bem remunerado por um show. No seu caso, o agravante era justamente o fato de ser imigrante.
— No Rio Grande do Sul, não valorizam os artistas locais. Eu me considero um artista daqui. Quando procurava um lugar para fazer show, o valor que me ofereciam era ridículo. Tem uma questão social. As pessoas pensavam: “Esse africano vai cantar o quê?”.
Apesar de ter lançado um CD no Opinião em 2017, o haitiano Alix Georges, 37 anos — 12 deles vividos em Porto Alegre —, ainda não consegue viver do dom com a voz e o teclado. Com o projeto musical ao lado dos outros imigrantes, espera que os brasileiros passem a valorizar seus talentos.
— Todos os imigrantes carregam consigo uma riqueza cultural. A pessoa não carrega só tristeza, angústia e necessidade de trabalho. A pessoa tem muitas coisas boas que poderiam alegrar o povo brasileiro.
Show Projeto Imigrantes
Sexta-feira (14), às 19h.
Teatro Unisinos (Av. Nilo Peçanha, 1.600).
Entrada gratuita. Capacidade máxima para 474 pessoas.
As músicas podem ser ouvidas em bit.ly/sigmund_records