Alunos do 3° ano da Escola Estadual de Ensino Médio Professor Tolentino Maia, de Viamão, que se preparam para fazer vestibular e as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), não têm aulas de uma das uma disciplinas mais importantes do currículo: há três meses, estão sem professor de português. Em maio, a docente torceu o pé na escola. Desde então, está de licença saúde e sua vaga não foi preenchida.
Pelo menos duas vezes por semana, estudantes das turmas 301 e 302 são liberados mais cedo. No caso da 301, que também tem falta de professores de química — os alunos contam que só tiveram duas aulas da disciplina este ano — saem antes do horário na segunda, quarta e quinta.
Para o diretor Glênio Andrade, é uma frustração não ter como oferecer aulas de português para alunos que não terão a chance de recuperar esse conteúdo no ano seguinte. A formatura das turmas está marcada para a metade de dezembro:
— A pergunta que eu me faço é como vamos recuperar isso. Me preocupo com o futuro desses jovens, que vão se formar sem uma disciplina que é muito importante. A exigência que eles terão daqui para frente só vai aumentar, e o português, nesse contexto, é muito importante.
Prejudicados
Quatro jovens ouvidos pela reportagem dizem que se sentem prejudicados por estarem sem docente justo nesse momento. O estudante Eduardo de Oliveira, 18 anos, conta que a deficiência na disciplina não é de hoje. No 1° ano do Ensino Médio, também houve falta de professor da disciplina por vários meses.
— Português ajuda na interpretação de problemas de matemática, na interpretação de provas. É difícil se preparar para o Enem sem isso. A gente precisa saber o básico para interpretar uma questão — avalia Eduardo.
Sem português na escola, Fernanda Freitas, 18 anos, se prepara para a prova assistindo aulas no Youtube e fazendo provas antigas do Enem, mas já admite que este ano fará a prova apenas para "teste", pois estará mal preparada:
— O Enem está aí, e é 100% leitura e interpretação de texto, além da redação. Com que condições vamos fazer essa prova? A escola está nos tirando um direito nosso. O Estado não manda professor para aprendermos o básico.
Fernanda acredita que, para concretizar seu desejo de estudar Direito ou Psicologia, terá que fazer um cursinho ao longo do próximo ano.
Tulio Borba Aguir, 18 anos, diz que a falta de preparo faz com que ele também não leve o Enem deste ano a sério. Assim como os demais colegas, ele planeja arrumar um emprego para pagar um cursinho e investir na preparação Enem do ano que vem:
— Eu tenho dificuldade na redação, meu texto precisa de muita correção. Alguns erros que, na hora em que eu escrevo, não me dou conta. Preciso de um professor para me ajudar.
"Sozinho, fica difícil"
Se na escola não aprende sequer o que está no currículo, Eduardo de Oliveira, 18 anos, que estuda e trabalha como cartorista, admite que não tem ânimo para estudar para o Enem. O jovem pretende cursar Economia:
— Tento me manter informado das notícias para ir bem na redação, ter argumentação. Mas, ainda assim, é preciso de um professor para nos ajudar a organizar nossas ideias. Sozinho é difícil de fazer.
Com desejo de cursar Marketing, Thaynná Schiratski, 18 anos, afirma que se sente vulnerável e em desvantagem em relação a outros estudantes. Para ela, português é fundamental, inclusive, para que eles possam se comunicar bem em uma entrevista de emprego.
— Se eu for para o Enem só com o preparo que tenho da escola, não vou tirar uma nota boa. Também tenho dificuldade em redação — diz.
Fernanda resume um pouco da frustração de todo grupo:
— A gente começa o 3° ano cheio de expectativas, pensando no futuro, e não temos nem professor de português. É um desleixo com a gente.
Problema deve ser solucionado em breve
A Secretaria Estadual de Educação (Seduc) informa que a escola solicitou à 28ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) apenas o preenchimento de aulas de português para o turno da tarde. Situação que, segundo a Seduc, já foi atendida. Ontem, ao ser informada pela reportagem, a Seduc indicou quatro docentes à escola para suprir as 20 horas restantes do turno da manhã. De acordo com a secretaria, está aguardando a aprovação da diretoria para enviar o profissional.
Já a direção da escola afirma que pediu professor de português para suprir as aulas da manhã e da tarde na mesma solicitação. Também informa que a professora de português indicada para dar aulas à tarde não apareceu na escola no mês de agosto. Quanto à disciplina de química, a Seduc informa que a educadora responsável pediu dispensa da contratação no dia 12 de agosto. Já foi encaminhado um novo contrato temporário, e a previsão para a chegada do profissional à sala de aula é de até 20 dias.