Vinte dias após a denúncia da reportagem a respeito da venda de lugar na fila na Unidade de Saúde (US) Bom Jesus, na zona leste da Capital, a situação está mais tranquila. Conforme relatos dos moradores, o esquema de reservas praticamente sumiu.
— Quase não se vê mais ninguém, mas o problema é que uma hora ou outra eles voltam — comentavam usuários.
Às 6h30min desta segunda-feira (3), sete pessoas aguardavam na fila. Todos garantiram o agendamento da consulta que buscavam. O local estava limpo, sem acúmulo de papelão e pedaços de madeira, e até a antiga poltrona que ficava em frente à unidade e era usada pelos "cuidadores" do espaço foi retirada. O aposentado Luiz Paulo de Souza, 63 anos, era o primeiro da fila. Chegou às 2h30min por medo de ficar sem senha.
— Preciso vir de seis em seis meses para retirar a receita do medicamento, então vim cedo. Tenho medo, mas preciso — conta.
Segundo os usuários, a prática de reserva de lugar era antiga no bairro e vinha causando muitos problemas. Quem não se sujeitava a pagar o valor cobrado, que poderia variar de R$ 10 a R$ 50, corria o risco de ficar sem o agendamento da consulta. Para garantir, era necessário pernoitar em frente ao posto.
— Vim duas vezes na semana passada e não consegui a senha para consulta com clínico geral, mas porque realmente tinha bastante gente aguardando — comenta o aposentado Luiz Henrique Piassum, 61 anos.
Ontem, a US disponibilizou 14 fichas para clínico geral, nove para pediatra e cinco para idosos.
Organização
Logo após a publicação da reportagem, a guarda municipal realizou o monitoramento da abertura do posto por alguns dias. Nesta segunda, as pessoas que aguardavam na fila viram uma viatura passando uma vez no local. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que para tentar controlar a venda de espaço na fila, funcionários do pronto-atendimento, que funciona ao lado da US, iriam coletar os nomes das primeiras pessoas que aguardavam por volta das 5h. Esta prática, segundo informaram os frequentadores do posto, não estaria ocorrendo.
A prefeitura diz que as medidas foram tomadas em um primeiro momento para inibir o comportamento e se mantêm em situações pontuais. De acordo com a SMS, a prefeitura está organizando um cronograma para informatizar o sistema de consultas em todas as unidades da Capital. Por meio dele, a partir do segundo semestre deste ano, entrará em funcionamento o agendamento eletrônico por aplicativo, que deverá acabar com a questão histórica de filas nas unidades de saúde.
21 postos ainda no sistema de fichas
Levantamento realizado por GaúchaZH mostrou que dos 141 postos de saúde de Porto Alegre, 21 ainda utilizam o sistema de fichas para agendamento de consultas. Nesta lista estão algumas das maiores unidades básicas de saúde (UBS) da Capital, como o Modelo, na área Central; Bom Jesus, na zona leste; e Restinga, no extremo-sul do município.