Servidores da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) reagiram a uma declaração da secretária de Desenvolvimento Social e Esporte, Comandante Nádia, que criticou a abordagem feita a moradores de rua em Porto Alegre. Em palestra a empresários da Zona Norte, na última quarta-feira (26), Nádia teria atribuído a “questões ideológicas” de funcionários a baixa adesão ao programa da prefeitura que pretende retirar as pessoas das ruas.
— O que ela falou nos deixou incomodados, porque vem de alguém que não conhece a política de assistência. Ela fala que os servidores não convencem as pessoas (a aderirem ao programa), mas quem está fazendo o trabalho de abordagem social são entidades parceirizadas, não os estatutários — critica Marilu Goulart, supervisora técnica da coordenação de monitoramento e avaliação da autarquia.
De acordo com Marilu, a secretária “não tem conhecimento sobre o que está gerenciando” e ofendeu os servidores que trabalham nas redes de ação social da prefeitura.
— Não existe nenhum posicionamento sem ideologia. Todos os trabalhadores têm suas diferentes ideologias. Aquilo que ela chama de ideologia é a luta pela política de assistência social — diz a supervisora.
Procurada por GaúchaZH na quinta-feira (27), a secretária afirmou que a declaração foi tirada de contexto e que ela se referia apenas à abordagem feita aos frequentadores do Restaurante Popular de Porto Alegre.
— Eu não dei entrevista nenhuma sobre isso. Minha fala aos empresários foi específica sobre a questão do restaurante, que de todas as pessoas que se servem, nenhuma foi abordada pelas equipes. Isso é um erro crasso, e é péssimo — disse Nádia.
Conforme a secretária, tanto equipes parceirizadas quanto assistentes sociais da Fasc participam de abordagens às pessoas que vivem na rua.
— Tem muita gente boa na Fasc, muito trabalhador que faz o serviço a contento e é comprometido com o trabalho, mas a questão do Restaurante Popular ficou em aberto. Nenhum deles (usuários) tinha sido abordado por nenhuma equipe, isso é péssimo e mostra um mau serviço — disse a secretária.
Questionada sobre a opinião a respeito das equipes de assistência, ela disse que o trabalho “pode melhorar”.
— Em uma opinião geral, eu acho que o trabalho sempre pode melhorar. É um trabalho a médio e longo prazo que tem que ser feito. E todo o trabalho pode e deve ser melhorado.
Confira a íntegra das notas da prefeitura e do Correio do Povo
Na quinta-feira (27), depois de a secretária ter conversado com a reportagem de GaúchaZH, a prefeitura enviou nota de esclarecimento.
"A secretária municipal de Desenvolvimento Social e Esporte, Comandante Nádia, participou essa semana, como convidada, de uma palestra para integrantes da Associação das Empresas dos Bairros Humaitá e Navegantes. No encontro, ela falou sobre o trabalho desenvolvido pela pasta e pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Em nenhum momento, a secretária desqualificou o trabalho prestado pelos servidores públicos.
Nádia explicou aos empresários a forma como a equipe de assistência social atendia os moradores de rua que procuravam o Restaurante Popular. No antigo modelo de serviço, as pessoas pagavam R$ 1,00 por refeição e não eram acolhidas pela equipe social. A partir de agora, Porto Alegre terá seis restaurantes descentralizados que oferecerão, além de refeições sem custo, um centro de atendimento social mais completo, com serviços em saúde, educação e cultura.
A secretária esclarece que não deu entrevista à imprensa durante o evento da associação. Ela acredita que o mal entendido tenha ocorrido porque o jornalista do Correio do Povo presente no encontro não assistiu toda palestra e usou uma parte da sua fala fora de contexto. Nádia reafirma sua confiança no trabalho desenvolvido pela secretaria e defende que prestar um serviço apenas assistencialista não estimula as pessoas em situação de rua a buscarem sua dignidade.
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Porto Alegre"
Nesta sexta-feira (28), o Correio do Povo enviou a seguinte nota:
"Esclarecemos que o repórter Henrique Massaro, do jornal Correio do Povo, acompanhou - do início ao fim - a palestra da secretária do Desenvolvimento Social e Esporte, Comandante Nádia, proferida no dia 26 de junho para empresários vinculados à Associação das Empresas dos bairros Humaitá-Navegantes (AEHN). O jornalista gravou todas as declarações da palestrante, incluindo as afirmações de que a atuação das equipes de abordagem "é péssima" e que os servidores, por questões ideológicas, "estimulam as pessoas a ficarem na rua". Diferentemente do que a secretária afirmou em nota oficial, as frases não foram tiradas de contexto. O repórter deixou o local do evento ao término da palestra, momento em que foi aberto espaço para que os empresários fizessem a ela seus questionamentos. Mais tarde, o jornalista tentou contato com a secretária por mensagens e telefonemas para aprofundar as declarações, mas não teve retorno.
Luciamem Winck, coordenadora de Produção do Jornal Correio do Povo"