Uma estratégia inédita está conseguindo frear o furto e o roubo de veículos em Porto Alegre, embora andar de carro ainda represente um risco na Capital. Nos primeiros cinco meses do ano, a combinação entre tecnologia, integração entre órgãos de segurança e investimento em inteligência derrubou em um terço o número de ocorrências em comparação com 2018.
O número de automóveis furtados (levados sem a presença do proprietário) ou roubados (mediante ameaça ou violência) de janeiro a maio ficou em 3.461, ou seja, 33,3% a menos do que os 5.191 casos registrados um ano antes. Todo o Estado apresentou uma tendência de queda nesse período, mas em ritmo menos intenso – retração de 21,9%. A diferença pode estar na fórmula aplicada na Capital para tirar de circulação os ladrões de carro.
Uma das novidades que ganharam as ruas de Porto Alegre foi o cercamento eletrônico implantado pela prefeitura em agosto do ano passado. Um sistema capaz de identificar automaticamente as placas dos veículos por meio de câmeras, pardais e lombadas monitora 93 pontos da cidade. Quando uma placa com registro de furto ou roubo é flagrada por um desses equipamentos, um alerta dispara nos centros de controle municipal e estadual. Se houver uma viatura disponível nas proximidades, a Brigada Militar tenta abordar o suspeito e recuperar o veículo.
– O município detém um volume de informações maior do que Estado ou União, e pode contribuir com as polícias de investigação e repressão. Agora, pretendemos investir no monitoramento de todas as entradas e saídas da cidade – afirma o prefeito Nelson Marchezan.
Prefeitura e Estado, porém, divergem nos critérios para medir o impacto direto do cercamento. O município contabiliza 221 carros recuperados de janeiro a maio, enquanto a Secretaria da Segurança Pública estadual registra 76, quase três vezes menos. A explicação é que, conforme a assessoria de comunicação da secretaria, o Departamento de Comando e Controle Integrado contabiliza apenas os automóveis recuperados logo após a emissão do alerta – quando a BM consegue chegar ao local e abordar o veículo furtado ou roubado.
Já a prefeitura, conforme o gerente de projetos da Secretaria Municipal de Segurança, Gabriel Sari Meneghetti, põe na conta os carros que geraram um alerta no sistema informatizado e foram recuperados em qualquer momento – ao passarem por uma câmera ou posteriormente, mesmo ao pararem em uma barreira ou terem sido abandonados.
– Se gerou um alerta no sistema de cercamento eletrônico e depois foi recuperado, mesmo que não seja na hora, isso é registrado e contabilizado. Vamos procurar unificar isso com o Estado nos próximos dias – afirma Meneghetti.
A despeito das diferenças para medir o impacto da tecnologia, o responsável pelo Comando de Policiamento da Capital, tenente-coronel Rodrigo Mohr Picon, afirma que o cercamento tem sido importante aliado para aprimorar o combate aos criminosos.
– Nem sempre conseguimos fazer as prisões na hora (em que o alerta dispara), mas as câmeras auxiliam a mapear as rotas dos carros roubados, indicar para onde vão e dar pista sobre quadrilhas – sustenta Mohr.
Aí entram em cena outros dois fatores que ajudam a explicar a redução no furto e roubo de carros: integração entre órgãos como prefeitura, Brigada Militar, Polícia Civil e Ministério Público, que têm trocado informações sobre locais mais visados, rotas de fuga, suspeitos, entre outros dados, e ênfase na área de inteligência para complementar o policiamento ostensivo.
Uma das iniciativas começou quando o tenente-coronel Mohr ainda liderava o 9° Batalhão de Polícia Militar. Após colocar 60 policiais na rua para tentar prender uma quadrilha, sem sucesso, o comandante abraçou um plano para atuar com base em coleta e análise de informações.
- Aprendi que só a força não adiantava. Quando passamos a agir com base em dados de inteligência, reduzimos os furtos e roubos na área do 9º BPM em 60%. Agora, levamos essa experiência para toda a cidade - diz Mohr.
O tenente-coronel prefere não detalhar o tipo de trabalho realizado por razões estratégicas, mas envolve o mapeamento de áreas vulneráveis, rotas de escape, destinos mais comuns dos veículos e identificação das principais quadrilhas em parceria com os demais órgãos de segurança.
Ocorrências em queda
Registros de furto e roubo de veículos na Capital e em todo o Estado, e carros recuperados em Porto Alegre (de janeiro a maio)
Porto Alegre
- 2018: 5.191
- 2019: 3.461
- Variação: -33,3%
Rio Grande do Sul
- 2018: 13.715
- 2019: 10.705
- Variação: -21,9%
Recuperação de veículos
- 221 veículos recuperados em qualquer momento após terem sido flagrados pelas câmeras e registrados no sistema do cercamento (critério utilizado pela prefeitura) neste ano
- 76 automóveis recuperados logo após disparo do alarme de furto ou roubo do cercamento eletrônico (parâmetro considerado pelo Estado) desde janeiro
Detetive cidadão
Com a funcionalidade Detetive Cidadão do aplicativo #EufaçoPoa é possível fotografar a placa de um veículo suspeito e verificar a situação dele. Você pode baixar o app para iOS ou para Android. Mais de 35 mil downloads já foram feitos.
Como usar
- Fotografe a placa de um veículo suspeito
- Informe a localização do veículo
- Caso seja um veículo roubado, um alerta será emitido às autoridades policiais
- O veículo passará a ser monitorado em tempo real