Esta reportagem foi publicada em 2019 e faz parte de uma série de reportagens que compilam opiniões sobre o Muro da Mauá. Confira aqui os argumentos contrários ao muro.
Alvo de polêmica desde que foi construído, o Muro da Mauá voltou ao centro dos debates em Porto Alegre quando o prefeito Nelson Marchezan defendeu a derrubada, em evento realizado no Cais Mauá na segunda-feira (22).
Embora a controvérsia seja antiga, novos dados e estudos apresentam razões para destruir o paredão de concreto ou preservá-lo como barreira contra uma eventual enchente. Veja, a seguir, alguns dos principais argumentos de quem prega a continuidade da parede de concreto entre a cidade e o Guaíba.
Por que o Muro da Mauá não deve ser derrubado
O muro que divide os porto-alegrenses em duas facções - defensores e derrubadores - faz parte de um conjunto de barreiras destinado a conter cheias como as que afetaram a cidade em 1941, 1967 e, mais recentemente, 2015. Um estudo acadêmico realizado no ano passado pelo engenheiro ambiental José Augusto Müller Neto sob orientação do professor do IPH da UFRGS Fernando Dornelles procurou avaliar qual o impacto que enchentes equivalentes às daqueles anos teriam sobre a Capital hoje se não existisse o Muro da Mauá e o complexo de diques que ele compõe.
A conclusão do trabalho, que levou em conta o número atual de edificações e a altitude de cada uma delas, é de que até 43,5 mil imóveis poderiam ser alagados caso as condições de 1941 se repetissem sem a proteção do sistema anticheias. Naquele ano, o nível do Guaíba foi a 4,76 metros. Se a cota da água chegasse a 3,13 metros, como em 1967, 16,7 mil casas e prédios seriam atingidos.
Mesmo a cheia de 2015, sem todo o conjunto de diques, deixaria 12,8 mil imóveis desprotegidos em bairros como Menino Deus e o extremo norte da cidade.
- O muro faz parte de um sistema de proteção mais amplo de diques. Se tirar só o muro, a água pode voltar por ali e afetar a cidade - explica Dornelles, engenheiro civil com doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.
O professor da UFRGS afirma ainda que a estimativa de que uma enchente como a de 1941 se repita somente a cada 1,5 mil anos não é uma garantia de tranquilidade. Esses cálculos são projeções com base nas medições no nível da água realizadas periodicamente. Podem se alterar de um ano para outro e não significam que um evento imprevisto não possa ocorrer.
- Em 1925, a taxa de retorno (período estimado para um determinado evento se repetir) esperada para uma cheia como a de 1941 era de 13.587 anos. Ainda assim, acabou acontecendo poucos anos depois - analisa Dornelles.
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, que incorporou a Coordenação de Esgotos Pluviais (antigo DEP) informou que, no momento, não há estudos em andamento para derrubar o muro da Mauá. O órgão preferiu não se manifestar por meio de entrevista.
Motivos para não derrubar o Muro da Mauá
- O muro faz parte de um complexo sistema contra cheias. Tirar uma parte desse sistema faz com que toda a linha de 68 quilômetros de diques perca a eficácia
- O período estimado para a repetição de eventos extremos é um cálculo estatístico, mas nada impede que ocorra uma cheia de grandes proporções antes do previsto
- Reduzir a altura do muro tornaria a cidade mais vulnerável a cheias, incluindo enchentes que costumam ocorrer com maior frequência do que o evento extremo de 1941
- Soluções alternativas são possíveis, mas podem envolver custos elevados de implantação e manutenção
- Eventuais problemas de conservação do muro podem ser solucionados com relativa rapidez, mantendo a funcionalidade
O muro da polêmica
- O Muro da Mauá foi construído em 1972
- Tem 3 metros de altura acima do solo e outros 3 metros abaixo
- 2.647 metros de comprimento
- 14 comportas
- Faz parte de um sistema de diques (veja abaixo) com 68 quilômetros de extensão