Esta reportagem foi publicada em 2019 e faz parte de uma série de reportagens que compilam opiniões sobre o Muro da Mauá. Confira aqui os argumentos favoráveis ao muro.
Alvo de polêmica desde que foi construído, o Muro da Mauá voltou ao centro dos debates em Porto Alegre quando o prefeito Nelson Marchezan defendeu a derrubada, em evento realizado no Cais Mauá na segunda-feira (22).
Embora a controvérsia seja antiga, novos dados e estudos apresentam razões para destruir o paredão de concreto ou preservá-lo como barreira contra uma eventual enchente. Veja, a seguir, alguns dos principais argumentos de quem prega o fim da parede de concreto entre a cidade e o Guaíba.
Por que o Muro da Mauá deveria ser derrubado
Construído no começo dos anos 1970, o muro que caracteriza a paisagem no centro da Capital foi projetado para fazer frente a uma enchente equivalente à pior que a região já registrou, em 1941. Por isso, conta com três metros de altura acima do solo e outros três metros enterrados. As estimativas mais recentes, porém, indicam que o risco de uma cheia como aquela se repetir é de um episódio a cada 1,5 mil anos, conforme informações do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para o arquiteto e urbanista Benamy Turkienicz, a baixa probabilidade de um evento extremo ocorrer novamente no curto prazo justificaria a remoção ou a redução do obstáculo.
- Tirar o Muro da Mauá representaria um enorme ganho para Porto Alegre. A área portuária fazia parte do cenário urbano antes do muro, e depois dele deixou de existir como componente do centro urbano - opina o professor da UFRGS.
O paredão poderia dar lugar a um substituto mais baixo, destinado a prevenir apenas enchentes de menos impacto e mais frequentes. O urbanista também sugere que se analisem sugestões de alternativas, como estruturas móveis que sejam acionadas somente quando há ameaça de aguaceiro.
- Outros eventos de menor porte podem ocorrer com mais frequência, a cada cem, 200 anos. Para esses casos, um muro baixo já seria o suficiente - garante Turkienicz.
Com a discussão reaberta, o vereador Idenir Cecchim (MDB) desarquivou na terça-feira (23) um projeto apresentado originalmente na Câmara Municipal em 2010 que propõe a derrubada da estrutura - embora Cecchim admita apenas reduzir seu tamanho caso isso facilite uma eventual aprovação da medida.
- É um exagero termos um muro desse tamanho, que prejudica a integração da cidade. Se tivermos outra enchente como a de 1941, outros bairros da cidade ficarão embaixo d'água de qualquer jeito - diz Cecchim.
Em princípio, o projeto teria de passar por comissões antes de ir a plenário, mas o vereador informou que pretende verificar maneiras de apressar a tramitação da proposta. Ainda não há prazo determinado para o projeto ser analisado na Câmara.
Motivos para derrubar o Muro da Mauá
- O risco de uma grande enchente, como a de 1941, está estimado hoje de um evento do tipo a cada 1,5 mil anos
- Desde a construção, o muro não chegou a ser atingido pela elevação do nível da água
- Poderia ser substituído por um muro mais baixo, diminuindo o grau de proteção contra enchentes, mas aumentando o valor urbanístico da região
- Poderia dar lugar a outra forma de contenção, como algum tipo de barreira móvel ou estrutura menos impactante visualmente
- Há dúvidas sobre a capacidade do muro de conter uma eventual cheia. O estudo ambiental do Cais Mauá apontou falhas estruturais e de vedação em 2015, por exemplo
O muro da polêmica
- O Muro da Mauá foi construído em 1972
- Tem 3 metros de altura acima do solo e outros 3 metros abaixo
- 2.647 metros de comprimento
- 14 comportas
- Faz parte de um sistema de diques (veja abaixo) com 68 quilômetros de extensão