O prefeito Nelson Marchezan defendeu a derrubada do Muro da Mauá em seu discurso na apresentação do projeto Cais Embarcadero, na noite desta segunda-feira (22), relatando que "gostaria de ser o piloto do trator" nessa operação. A declaração acabou reavivando uma polêmica antiga, por afastar a cidade do Guaíba há quase 50 anos, mas especialistas alertam que a medida poderia acabar com a serventia de todo um sistema de proteção de cheias — são 68 quilômetros de diques, 14 comportas e 19 casas de bombas para evitar que as águas alcancem a cidade.
Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), Joel Goldenfum relata que o sistema de proteção começa na freeway, segue pela Castello Branco, chega, então, na parte dos muros e segue pelos diques da Avenida Edvaldo Pereira Paiva.
— Se tirar o muro, compromete o sistema. Se houvesse uma inundação, a água entraria por ali, numa das áreas mais nobres, justamente o Centro, e poderia até atingir a prefeitura — relata.
Em relação ao muro, considerado necessário pelo corpo técnico da própria prefeitura para conter eventuais cheias como a de 1941, Marchezan propôs um substituto mais baixo ou alguma outra saída com menor impacto. Segundo Goldenfum, de fato, há alternativas mais avançadas à estrutura atual, como alguns sistemas de contenção de cheias utilizados na Holanda. Mas o custo é altíssimo, ressalta.
Uma ideia que brotou em Porto Alegre foi a de construir uma ciclovia com placas móveis de concreto, que se fechariam no caso de uma enchente, funcionando como muro. No entanto, a operação e manutenção desse dispositivo seria, também, cara demais. Assim, em Porto Alegre, é preciso optar por sistemas que exijam o mínimo de manutenção e operação.
O professor conta que todo o sistema de proteção da Região Metropolitana está relacionado às cheias históricas do Guaíba de 1941. Depois disso, em 1967 houve outro evento traumático, ainda que não tão desastroso. Por causa dessa repetição é que se resolveu construir o Muro da Mauá, completado na década de 70.