Maria se emocionou ao reencontrar animal
Foto: Osmar Freitas/Agência RBS
A cheia histórica do Guaíba já afeta cerca de 2 mil pessoas que vivem nas ilhas de Porto Alegre, segundo uma estimativa da Defesa Civil do município.
Esse número corresponde ao contingente de moradores que sofrem algum tipo de transtorno pelo avanço da água sobre o arquipélago, desde dificuldades para circular pelas ruas até impossibilidade de permanecer em casa devido à inundação. A cifra de atingidos corresponde a cerca de 25% dos 8,3 mil habitantes da área.
O volume de água é tão grande que, durante a madrugada de domingo, alcançou o colégio para onde estavam sendo encaminhadas as famílias desabrigadas na Ilha Grande dos Marinheiros. Perto de cem pessoas que ocupavam as salas de aula com colchões, travesseiros, roupas, TVs e bichos de estimação tiveram de ser transportadas em três ônibus da Carris para o Ginásio Tesourinha entre o final da manhã e o começo da tarde.
Entre elas estava Maria Rosane, 50 anos, acompanhada de duas filhas, do genro e de quatro netos. Maria conseguiu salvar algumas roupas, o aparelho e TV e cinco cães da família - mas ela lamentava tanto a perda dos bens materiais quanto a suposta morte de sua cadela Morgana, que ficou para trás durante a fuga da enchente. Pouco antes de embarcar no ônibus para o Tesourinha, a desabrigada chorou ao rever o animal encontrado e trazido por alguém para o abrigo.
- Ai, tu tá viva, minha velhinha! - gritou Maria ao abraçar a cadela, que estava encharcada e tremendo de frio.
A centenas de metros dali, o Guaíba seguia transformando as ruas em córregos e forçando moradores a carregar roupas, fogões, geladeiras e sacolas de roupa para um local seco. Em pontos dos becos 18 e 19, moradores relataram ter sofrido choques elétricos enquanto caminhavam em meio à inundação devido, provavelmente, ao contato de algum fio com a água. Por precaução, a Defesa Civil do município solicitou à CEEE o desligamento da energia na área para evitar um acidente mais grave.
Lanchas da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros auxiliaram a resgatar pessoas de pontos mais distantes ou com dificuldade de locomoção. Mas, por medo de deixar as casas vazias e serem vítimas de saques, muitas famílias se recusavam a ir para um abrigo, como a de Hipólito Moreira, 66 anos. Provisoriamente, ele instalou os sogros em uma van cedida pela empresa onde trabalha como motorista. O veículo estava estacionado próximo à casa deles.
- Depois vamos ver o que fazemos, porque eles não querem ir para um abrigo e deixar a casa para trás. Por enquanto, vamos ficar na van - disse Moreira.
Já Marion da Cruz, 49 anos, conseguiu refúgio em um galpão do outro lado da rua onde mora graças a um conhecido. Sua casa estava com mais de um metro de água.
- Na última vez em que eu vi isso aqui alagar desse jeito, eu tinha uns 16 anos. Se a água continuar subindo, vai entrar no galpão também - lamentou Marion, com receio de precisar abandonar a ilha inundada.
Estimava-se que entre cem e 200 moradores de toda a região das ilhas precisariam se refugiar em algum abrigo público na Capital, mas a cifra não era conclusiva e poderia aumentar nas hora seguintes.