Uma ilha dentro da ilha. Assim a biblioteca comunitária do Arquipélago é definida por parte dos seus frequentadores, a maioria crianças e adolescentes da Ilha Grande dos Marinheiros, onde está localizada. O espaço existe há quatro anos, atendendo e formando leitores.
O futuro do acervo de 1,5 mil livros está ameaçado, pois o prédio da biblioteca está localizado no traçado da nova ponte do Guaíba, que está 82% concluída, e terá que ser removido para a continuidade da obra. O local é a única referência do tipo no Arquipélago, que abrange as também as ilhas da Pintada e das Flores.
Aberto desde 2014, o espaço é a primeira ação do Plano Municipal do Livro e da Leitura (PMLL) de Porto Alegre, implementada pelo Cirandar com aporte financeiro da Prefeitura de Porto Alegre e do Instituto C&A. O Cirandar, uma organização não governamental que desenvolve ações sociais, atua como instituição formadora da biblioteca. Está atento às escolhas dos livros, à seleção criteriosa de obras e à indicação de títulos que farão a diferença na vida dos leitores.
Transferência
Além das rodas de leitura, a biblioteca promove brincadeiras, teatro, piquenique literário e encontro com escritores infantis. Todas atividades feitas a partir do incentivo da leitura e que buscam valorizar a cultura popular local e o empoderamento da comunidade.
– Queremos que a biblioteca não deixe de existir e que seja transferida para outro lugar dentro da ilha. É um espaço que precisa permanecer presente aqui. É uma referência que crianças e adolescentes vão perder caso feche – argumenta a coordenadora de formação Renata Toigo.
Ao longo de seus quatro anos, foram emprestados ou consultados mais de 7 mil livros, realizadas mais de 600 mediações de leitura e mais de 500 atividades culturais envolvendo, dessa forma, mais de 4 mil crianças e jovens.
Em janeiro, o Cirandar enviou um ofício ao vice-prefeito Gustavo Paim pedindo a indicação de um novo espaço dentro da ilha. Segundo a assessoria do vice-prefeito, há uma reunião marcada para o dia 17 de abril com a prefeitura, representantes da biblioteca e da comunidade local para tratar do assunto.
Lugar de paz e tranquilidade
Para os jovens ouvidos pela reportagem, a biblioteca funciona como um refúgio. Stephany Antonizzi da Silva, 14 anos, frequenta o espaço quase todos os dias por ser um lugar de tranquilidade e paz dentro da ilha.
– A biblioteca é um lugar de conversa, onde vejo amigas e descubro histórias. O hábito de ler, adquiri aqui.
Segundo ela, a assiduidade do contato com os livros melhorou seu vocabulário, o desempenho na escola e a ajuda a se expressar melhor. Ao mesmo tempo, o espaço virou um local de lazer da garota:
– Se a biblioteca se for, não teria para onde ir quando não tenho nada para fazer.
A professora Thali Bartikoski explica que a frequência na biblioteca forma leitores ao longo do tempo. Zila Castro da Silva, 15 anos, não tinha hábito de ler até começar a frequentar a biblioteca. Agora, ir até o espaço virou um hobby.
– É melhor ler aqui do que em casa, a gente tem mais calma, é silencioso. Aprendemos não só sobre o livro, mas discutimos as histórias dentro de outros assuntos – diz a jovem, que gosta de ler livros infantis e adolescentes.
A menina argumenta ainda que a biblioteca ajuda na concentração, por ser um lugar onde é mais fácil ler sem ser atraída pela tela do celular.
Também moradora da ilha, Morgana Brasil, 17 anos, é uma leitora voraz. Na tarde da última terça-feira, apareceu na biblioteca para devolver o livro Orgulho e Preconceito, da escritora britânica Jane Austen. Obra que, segundo ela, já leu três vezes:
– Esse é um espaço que precisa ser expandido, com certeza essa biblioteca faz mais diferença na nossa vida do que a construção da uma ponte – compara a jovem.