Em 2005, o morador de Eldorado do Sul Luiz Antonio Domingues esperava com outras centenas de motoristas a liberação do trânsito sobre a ponte do Guaíba quando percebeu gritos vindos do interior de uma ambulância parada ao lado. Quando as portas da caminhonete se abriram, viu uma mulher desesperada e com a mão pingando sangue. Ela havia quebrado a janela do veículo, em desespero, ao perceber que a filha, em deslocamento de emergência para um hospital de Porto Alegre, morrera durante o içamento do vão móvel.
Naquele momento, Domingues decidiu se dedicar à luta pela construção de uma nova ponte sobre o Guaíba que evitasse casos como esse. Desde então, já tirou dinheiro do próprio bolso e vendeu itens pessoais para custear viagens a Brasília a fim de cobrar recursos e soluções para a obra.
Um dos fundadores do Movimento Ponte do Guaíba e atual presidente do grupo, o militante pró-infraestrutura compensa com organização e entusiasmo a falta de verbas. Na sede da organização – uma sala no segundo andar de um imóvel onde também funciona uma fábrica de móveis, em Eldorado –, guarda ofícios de órgãos federais, cópias de e-mails trocados com empresários, políticos e assessores, projetos viários e toda sorte de papeis que documentam a campanha iniciada em março de 2006.
– Começamos a defender a ideia de construir a segunda ponte quando ninguém acreditava. Eu e minha mulher na época gravamos vídeo em defesa da obra, que foi visto até pelo Lula. Desde então, já gastei uns R$ 40 mil do próprio dinheiro com 15 a 20 viagens a Brasília – conta Domingues, 67 anos, ex-produtor de rádio, beneficiário do INSS, atualmente separado.
Para uma das incursões ao Distrito Federal, vendeu um computador e uma bicicleta por R$ 650. Em outras ocasiões, pediu dinheiro para empresários da região. Criador da Frente Parlamentar Pró-Ponte do Guaíba, o ex-deputado estadual José Sperotto (PTB), hoje prefeito de Guaíba, afirma que a participação popular ajudou a impulsionar a obra.
– A comunidade foi muito importante, principalmente no início do projeto. Sempre atuamos em conjunto com a sociedade, com pessoas como o Domingues. Depois, a parceria com a bancada federal gaúcha também ajudou muito – diz Sperotto.
No momento, o morador de Eldorado atua como espécie de fiscal informal do projeto. O anúncio recente de que a entrega da construção foi novamente adiada – do final de 2019 para meados do ano que vem – já lhe colocou atrás de dinheiro para nova viagem a Brasília.
– Cheguei a ficar amigo de alguns assessores de ministros. Sempre fui bem recebido – conta o ativista dedicado a construir pontes invisíveis entre sociedade e governo.
Pai de três filhos, ele diz que tem um plano para quando a nova travessia for inaugurada. Pretende tomar uma espumante admirando, ao longe, a estrutura. Depois, tem plano de defender a implantação de uma terceira ponte sobre o Guaíba, partindo de Viamão.