Por ser marco inicial de um período sombrio da história do país — no qual restrições de liberdades e tortura se tornaram políticas de Estado —, o 31 de março faz com que os olhos de parte dos brasileiros se voltem a 1964. Ao determinar que o início da ditadura militar seja "rememorado", no entanto, o presidente Jair Bolsonaro deu outra dimensão à data neste ano.
Suas manifestações expressam uma mudança de posição do governo federal, que sob o comando de Fernando Henrique Cardoso criou a Comissão de Anistia em 2001 e com Dilma Rousseff deu início à Comissão Nacional da Verdade (CNV) em 2012.
Em 2014, o relatório final da CNV mostrou que o Rio Grande do Sul teve a maior estrutura repressiva do país, com 39 locais de detenção e tortura — 18 deles em Porto Alegre. Os pontos nem sempre eram usados para torturar presos políticos: quartéis do Exército e da Brigada Militar, mais delegacias de Polícia Civil, foram adaptados para guardar ou interrogar militantes.
O Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no Palácio da Polícia, foi o mais cruel. Em 2014, ZH entrou nas antigas salas de tortura com João Carlos Bona Garcia, ex-integrante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que lá padeceu em março de 1970.
— Em nome do Estado brasileiro, cometeram crimes que não poderiam ter cometido — disse Bona Garcia.
A partir das palavras do músico Raul Ellwanger, que viveu no exílio, o vídeo também reconta a história do Dopinha, casarão no bairro Bom Fim usado como centro clandestino de tortura para não comprometer os órgãos oficiais do Exército.
— Houve sevícias, desaparecimentos temporários e a tentativa de desaparecimento total do sargento Raimundo. Quando surge o Ato 5, se torna desnecessário esse tipo de lugar porque essa política se torna oficial — relatou Ellwanger.