Pela primeira vez em tempos democráticos os militares brasileiros foram estimulados por governantes a comemorar a derrubada do governo João Goulart, que patrocinaram em 31 de março de 1964 - e não a se envergonhar desse ato. O estímulo para que o regime militar, inaugurado naquele ano e que durou 21 anos, seja saudado e não repudiado parte do presidente Jair Bolsonaro, ele próprio um militar da reserva e adepto incondicional do regime autoritário, que ele nega ter sido uma ditadura.
O alto comando das Forças Armadas, porém, não pretende "celebrar" o movimento que derrubou o governo em 1964, algo que a cúpula militar considera um "contragolpe" e não um "golpe", como a esquerda, a maioria dos historiadores e órgãos de defesa dos direitos humanos definem. Será realizada dentro dos quartéis uma cerimônia para as tropas, enfileiradas, ouvirem a ordem do dia, tipo de pronunciamento feito em datas importantes.
Ao contrário do que estava previsto inicialmente, os comandantes das regiões militares não escreverão textos individuais. O documento a ser lido é padrão e será elaborado pelo Ministério da Defesa. A recomendação do ministro, general Fernando Azevedo e Silva, é de que seja algo discreto, relembrando um episódio crucial e que teria sido o "último recurso" diante do quadro de caos, insubordinação nos quartéis e nas ruas e iminência de conflitos que se vivia em 1964. GaúchaZH ouviu generais do alto comando. Todos asseguram encarar 1964 como algo do passado, de uma época de guerra fria (mundo dividido em polos simpáticos ao socialismo e ao capitalismo), em que morreram combatentes dos dois lados. "Desde então o mundo se sofisticou, não é tão simplista. O importante é evitar provocações e tensões entre os brasileiros, não agravá-las", pondera um dos oficiais. Por isso, ao contrário do recomendado por Bolsonaro, as cerimônias devem ser comedidas. A dúvida é, exatamente, o quão discreto o presidente está disposto a ser na sua celebração.