Política

Mudança no discurso

Bolsonaro diz que ideia é "rememorar" golpe de 1964, não comemorar

Na segunda-feira, porta-voz disse que o presidente ordenou as "comemorações devidas"

Folhapress

Em evento de comemoração dos 211 anos da Justiça Militar, o presidente Jair Bolsonaro negou que tenha determinado ao Ministério da Defesa que fosse comemorado no domingo (31) os 55 anos do golpe de 1964.

— Não foi comemorar, foi rememorar, rever o que está errado, o que está certo e usar isso para o bem do Brasil no futuro — afirmou nesta quinta-feira (28).

A fala diverge de declaração feita pelo porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, na segunda-feira (25). O general afirmou aos jornalistas, na ocasião, que o presidente havia determinado à Defesa que fossem feitas "comemorações devidas" no domingo, quando se completam 55 anos do golpe militar.

O porta-voz disse ainda que Bolsonaro não considera a tomada de poder pelos militares, em 1964, um golpe.  O episódio deu início no Brasil a um período de exceção, marcado por censura, torturas a adversários políticos, cassação de direitos e fechamento do Congresso Nacional. A ditadura, que se estendeu até 1985, for marcada por um período sem eleições diretas para presidentes da República, o que só foi retomado em 1989, após a Constituição Federal de 1988.

Na terça (26), o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, rechaçou o uso da palavra "comemoração". Segundo o ministro, a data é histórica e deve ser explicada para os mais jovens. Na quarta (27), em entrevista à TV Bandeirantes, Bolsonaro voltou a negar que tenha havido ditadura e golpe e afirmou que, assim como em todo casamento, todo regime tem alguns "probleminhas". 

Após ter sido intimado pela Justiça a prestar esclarecimentos sobre a ordem de comemoração, Bolsonaro minimizou o caso. Ele disse que haverá leitura na Ordem do Dia (discurso do comando das Forças Armadas em dias de comemorações) em um contexto do que foi a data há 55 anos.

— Contexto de Guerra Fria, houve o 31 de março e há uma cobrança das vítimas e instituições que acabaram prejudicando — disse.  

Bolsonaro afirmou que isso é história e, então, começou a ler, em tom provocativo, um editorial publicado pelo Grupo Globo em 1984, no fim da ditadura, assinado por Roberto Marinho e divulgado pelo presidente no Twitter na quarta (27).

— Você quer que eu repita para você aqui (o editorial)? Eu repito — disse, sorrindo e em tom de deboche, a duas repórteres do grupo, após uma delas fazer uma pergunta sobre o que ele faria em 31 de março.

— Participamos da revolução de março... quer que eu continue? —  repetiu o presidente. 

Capitão reformado do Exército, ele comparou ainda a Lei da Anistia a um namoro:

—  Imagine que nós fôssemos casados e tivéssemos problemas e resolvemos nos perdoar na frente. É para não voltar naquele assunto do passado que houve aquele mal-entendido entre nós. A Lei da Anistia tá aí e valeu para todos. Inclusive o governo militar fez com a Lei da Anistia fosse ampla, geral e irrestrita. E alguns setores dentro do Parlamento não queriam que certas pessoas voltassem a Brasília porque atrapalhariam seus projetos. Lei da Anistia vamos respeitar.

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