A orla de Porto Alegre amanheceu de ressaca. A beleza da festa da virada deu lugar à sujeira deixada por milhares de pessoas que foram ao Guaíba vibrar com a entrada de 2019. Levaram para casa a lembrança dos 10 minutos de fogos que coloriram o céu próximo à Usina do Gasômetro, mas deixaram no cartão-postal toneladas de lixo, entre latas de bebidas, garrafas e embalagens plásticas.
A prefeitura calcula que 140 mil pessoas passaram pela festa de Réveillon. O cenário do amanhecer mostrou que os 25 tonéis e mais de 30 contêineres instalados para descarte de lixo não foram suficientes.
— Foi muito bonito, valeu a pena vir. Mas todos esse lixo aqui é triste — avaliou a enfermeira Maira Oliveira Chaiben, 28 anos.
Ela acompanhou a festa com dois amigos e contou que, apesar de haver policiamento, ocorreram tumultos e tentativas de roubos no meio da multidão.
Antes do começo do trabalho do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), previsto para iniciar às 8h, quem fez a festa no local cedo da manhã foram catadores de resíduos recicláveis. Josué Pacheco Pereira, 35 anos, garantiu a refeição de Ano-Novo:
— Foi bom conseguir fazer um dinheirinho para não dizer que começou o ano sem nada. Vai dar para comprar fralda, leite, uma comidinha. Nosso Ano-Novo vai ser hoje. Peguei bastante coisinha boa, muita garrafa.
Pereira, pai de dois filhos, encerrou o recolhimento desejando começar o ano com o pé direito e, quem sabe, arrumar um trabalho para não ser mais catador.
Por volta das 6h30min, ainda era possível ouvir no local o som de garrafas sendo quebradas. Lixo ficou espalhado pelo gramado, pelas calçadas e até no meio da rua. Também havia na orla ao amanhecer pessoas dormindo no chão e outras, eufóricas, mergulhando no Guaíba e dançando. Tranquilo, o aposentado Sinval Oliveira, 65 anos, circulava de bicicleta para recolher rolhas.
— Minha filha é professora de artes plásticas. Ela aproveita. Faz trabalhos. Na última festa aqui, recolhi 300 rolhas — lembrou.
A comemoração junto à Usina do Gasômetro não ocorria há dois anos. Foi retomada com o uso de recursos privados. O prefeito Nelson Marchezan, o vice, Gustavo Paim, e o secretário municipal da Cultura, Luciano Alabarse, estiveram na comemoração.
— Esta é uma noite de festa e um momento de confraternização, em um espaço revitalizado. Estamos satisfeitos com o resultado, depois de trabalharmos para devolver o Réveillon da orla do Guaíba, mesmo sem recursos financeiros da prefeitura. Muita gente trabalhou contra este momento, mas muita gente trabalhou a favor e por isso deu certo. Porto Alegre merece mais momentos como esse — festejou Marchezan.
A festa teve shows musicais e pirotécnico, com duração de 10 minutos de fogos colorindo o céu. Conforme o 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), apesar de a festa ter acabado por volta das 2h30min, uma hora depois um grupo estava quebrando garrafas e chegou a jogá-las na tropa, que usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersão.
De acordo com o secretário Ramiro Rosário (Serviços Urbanos), mais de 30 garis atuavam na limpeza da região pela manhã.