Diante de três casos de agressões em escolas da rede municipal desde outubro passado (ocorridos em 24 e 31 de outubro e 7 de novembro) , GaúchaZH propôs às escolas um questionário sobre as condições de segurança. Na impressão dos diretores, houve um acirramento de ânimos no ambiente escolar que resultou em episódios de violência física.
Olhando para o fenômeno, o professor Alexandre Guilherme, dos programas de pós-graduação da PUCRS de Educação e de Psicologia, cita a filósofa alemã Hanna Arendt.
— Ela enxerga a escola como a primeira ponte entre as esferas privada e pública. Na esfera privada, na sua casa, você faz o que quiser. Na esfera pública, você entende que precisa de diálogo, de disciplina... Enfim, você age como cidadão. O que estamos observando agora é um discurso do privado querendo tomar conta do público. As pessoas se comportam e querem que a escola se adapte a como elas se comportam nas suas casas — declara Alexandre.
Essa influência do comportamento privado no ambiente escolar se refletiria em diferentes âmbitos. Desde episódios de conflito — escolas relataram que às vezes os próprios pais estimulam os filhos a "não levar desaforo pra casa" — até o patrulhamento ideológico do conteúdo que os professores estão ensinando.
Sobre como as escolas devem agir nesse contexto, um dos pontos que chamam a atenção no levantamento é que as escolas não estão paradas — 77% delas relataram contar com algum tipo de projeto relacionado à prevenção e/ou combate à violência. O mais citado é o "Dois caminhos, uma escolha", um ciclo de palestras com a Guarda Municipal. No dia 5, ele esteve na Grande Oriente, escola da Zona Norte onde ocorreu um dos casos de agressão.
— É preciso lembrar que cultura da paz não é receita de bolo. É implementada em um processo contínuo que não se esgota em uma ou outra palestra, e que precisa respeitar a particularidade de cada escola. Às vezes, os efeitos são invisíveis no dia a dia, mas pode apostar que a situação piora sem ela — aponta Alexandre.
O especialista vê sentido na demanda das escolas por mais projetos extracurriculares como uma das medidas urgentes para a prevenção da violência, apontado por 77% das direções.
— Acompanhei uma experiência na Grã-Bretanha em que se observou exatamente isso. Estudantes de áreas mais carentes voltavam sempre piores das férias porque não haviam tido experiências que a classe média tem como usuais: ir ao cinema, ler um livro, visitar um museu. Em áreas carentes, apostar na educação não formal é tão ou mais necessário do que o reforço do ensino das disciplinas tradicionais — declara o professor da PUCRS.