Diante de três casos de agressões em escolas da rede municipal desde outubro passado (ocorridos em 24 e 31 de outubro e 7 de novembro) , GaúchaZH propôs às escolas um questionário sobre as condições de segurança. Na impressão dos diretores, houve um acirramento de ânimos no ambiente escolar que resultou em episódios de violência física. Entre as causas, aparece a redução da presença da Guarda Municipal e a falta de projetos extracurriculares. O secretário municipal de Educação, Adriano Naves de Brito foi questionado sobre o dados do levantamento. Confira trechos da conversa.
O senhor considera que o clima está pior nas escolas municipais?
Cada caso de agressão tem uma característica específica. São casos isolados e não são aqueles com os quais a gente lida normalmente. Isso não quer dizer que não há uma beligerância, um clima de violência dentro das escolas. Esse ambiente mais violento é algo que vem acontecendo não só nas escolas municipais. Estamos percebendo essa tensão na relação entre professores e alunos em outros ambientes escolares, como escolas privadas. O que não é usual são os pais baterem fisicamente nos professores. Isso provoca um sinal amarelo: por que isso está acontecendo? Como esse limite foi ultrapassado?
Quais medidas práticas que a prefeitura pode tomar para mostrar que o professor não é inimigo?
Para a gente entender esse problema complexo, temos que separar violência pública de violência escolar. Esta precisa ser tratada com instrumentos pedagógicos. Primeiro, precisamos de mais investigações sobre o motivo desse aumento de tensão na comunidade escolar. Será que isso é descontrole da família? Se a família não respeita a escola, isso também tende a criar dificuldades para que o professor estabeleça uma relação de respeito em sala de aula. Além disso, precisamos tratar o tema das emoções. Vivemos um tempo em que as emoções estão desorganizadas. Essa é uma epidemia nacional na educação. O respeito não precisa vir só do aluno. Precisa haver um respeito social sobre a figura do professor.
As escolas reclamam ter pouca interlocução com a secretaria. A quem os professores precisam recorrer na secretaria em casos de violência entre estudantes ou entre pais e estudantes?
São temas para o nosso setor pedagógico. Mas se é um problema de disciplina na escola, isso é do âmbito da escola, e não da secretaria. O que registramos são problemas quando o professor é de tal modo afetado que ele tem um problema funcional.
Sem guardas nas escolas, os professores reclamam que atuam como agentes, apartando brigas e se colocando em risco. O que eles devem fazer nessa hora?
Nunca foi tarefa da Guarda Municipal intervir em briga de aluno. Isso é um desvio da função. A Guarda intervém em casos extremos. Quando tem uma agressão com uma faca, por exemplo.
Mas não seria um desvio de função ainda maior uma professora de Matemática intervir numa briga?
Não, não me parece. Briga de criança em escolas é tratado por professor e orientação. Mesmo brigas físicas. Você não vê notícia de chamarem a Brigada Militar ou a Guarda Municipal para separar briga entre alunos de 10 anos. Parte da tarefa de educação é justamente lidar com essas emoções desorganizadas. Veja bem, não é briga violenta entre adolescentes de 16 e 17 anos. Estamos falando de escolas fundamentais de alunos que, via de regra, são até 15 anos. Dizer que vamos terceirizar o cuidar da disciplina da escola para o guarda municipal é abrir mão, de novo, da própria possibilidade de fazer educação. São crianças e precisam ser tratadas como crianças.
Não são só crianças, há pais que entram nas escolas e agrediram professores. O que fazer?
São situações diferentes. Em briga de criança, são os professores. Quando é adulto, aí, sim, precisa ser acionada a polícia. Esses meios de acionar estão, em via de regra, disponíveis. No caso dessas agressões, não faria diferença se tivesse um guarda municipal na porta da escola. A escola não pode, a qualquer evento de violência, de indisciplina, terceirizar essa solução do problema.
A maioria das escolas sugere a volta da Guarda nas escolas. O que a prefeitura considera sobre isso?
Eu reconheço essa demanda dos professores, mas ela não corresponde aos fatos. A Guarda Municipal começou a sair das escolas desde 2008. Dizer que a saída da guarda piorou a partir de 2017 é desconhecer que os agentes já estão saindo das escolas há dez anos. Decisões sobre a Guarda também extrapolam as atribuição da Secretaria Municipal de Educação. Ela é uma ferramenta da Secretaria de Segurança Pública.
O levantamento apontou que a escola se ressentem de mais atividades extracurriculares e de mais projetos que fomentem a paz. Isso está sendo planejado para o próximo ano letivo?
Sim. Esses projetos funcionam como multiplicadores. Temos que formar pessoas que vão formar outras pessoas. Sobre as atividades extracurriculares, alguns desses projetos serão administrados na comunidade escolar e, outros, os alunos irão até uma entidade parceira. Recentemente fizemos um edital para mais 5 mil vagas para o ano que vem. Em 2019, queremos chegar a perto de 20 mil alunos atendidos com atividades em turno-inverso.