Guardado sobre o baleiro, o caderno de 48 folhas e capa mole preserva um valor em extinção em cidades grandes como Porto Alegre: a confiança. É nele que Astor Fuchs anota o valor das compras dos fregueses mais fiéis – e risca tudo no começo do mês, quando eles recebem o salário e retornam para pagar a conta.
O morador da Rua Washington Luiz abriu há quase 20 anos o minimercado de uns 50 metros quadrados na Demétrio Ribeiro, no Centro Histórico, com corredores abarrotados de mercadorias, por onde mal passa uma pessoa.
Ele calcula que cerca de 40 clientes ainda paguem fiado, no método que o armazém mantém desde sua fundação. Um deles é a funcionária pública aposentada Marlene Feijó, 66 anos, que faz todas as suas compras ali – a conta já deu de R$ 200 a R$ 600 no fim do mês. Ela observa que o caderninho é coisa para gente próxima:
— Mais que vizinhos, irmãos.
E não para por aí a função do comerciante-vizinho-irmão: Astor guarda na loja algumas chaves do pessoal do bairro e até recebe mercadorias para quem trabalha fora.
O estabelecimento ainda faz vezes de “achados e perdidos” do bairro. Esses dias, um chaveiro encontrado na rua ficou sobre o balcão até que a dona reconheceu e levou para casa.
O nome do estabelecimento foi escolhido por coincidência – ele e a mulher acharam bonito. Mas não poderia ser mais ser mais apropriado: chama-se Minimercado Confiança.
— Tem a confiança tanto nós no cliente quanto eles na gente. É vice-versa — conclui Astor.