No centrinho de Belém Novo, zona sul de Porto Alegre, o mundo ainda gira em torno da praça. É onde tem padaria, farmácia, mercado, escola, delegacia, e, é claro, a igreja, de 142 anos.
Enquanto os balanços rangem alto no playground, o carro do padre passa anunciando a festa da padroeira — que tem na programação carreata, baile e almoço com “carne, galeto, porco, salsichão, maionese e saladas”.
Uma tradição que quase não existe mais em Porto Alegre resiste na torre da igreja. No advento do sino eletrônico, a auxiliar de serviços gerais Leonarda Moreira da Silva sobe 27 degraus para puxar as cordas e chamar a comunidade para as missas, toda quarta, sábado e domingo.
— Aqui, sempre foi assim, manual — diz a voluntária.
Do outro lado da praça, Cláudio Borba, 71 anos, espera os clientes da sua pequena lanchonete sem sair de casa: ele abriu o Cantinho da Jaca no cômodo que ficou vago quando os filhos cresceram e se mudaram. O nome, segundo ele, é uma homenagem à patroa, apelidada por ele de Jararaca, há 45 anos.
— É que ela tem um gênio meio forte — justifica o homem.
Há cadeirinhas de estampa floral na sombra e uma placa na parede prometendo deliciosos croquetes no palito, enroladinhos, bolos de batata, cachorros-quentes (“tipo do Rosário”). Mas o que mais sai é o pastel – feito na hora, destaca Borba.
Outro negócio que parece ter saído de um túnel do tempo é a barbearia do número 442 da Avenida Heitor Vieira. O rosário pendurado na cadeira, Teixeirinha tocando num rádio velho e especialmente as cadeiras antigas de altura regulável chamam a atenção quando entrei.
— Elas são mais velhas que eu e você juntos — ri o barbeiro Valtoni Fernandes, 45 anos.
O barbeiro e o freguês sentando numa dessas cadeiras, Roberto Balbino, 52 anos, comentam que no bairro todo mundo conhece todo mundo, e acham graça de que muita gente não se considera da Capital.
— Tem gente que mora aqui que diz: vou para Porto Alegre. Não se dá conta que aqui é Porto Alegre — ri Valtoni.