Há mais de uma semana, João Manuel da Costa Silveira, 40 anos, ainda tenta se acostumar à ausência da esposa. Tatiana Bento dos Santos Silveira, 37 anos, morreu em acidente de trânsito na última quarta-feira (22), na Avenida Bento Gonçalves, na zona leste da Capital. Um homem, dirigindo um carro em alta velocidade, furou o sinal vermelho e atingiu outros carros — entre eles, o Peugeot 206 onde estava Tatiana.
Naquele dia, ela havia acordado por volta das 6h30min. Brincou com o marido para que ele não ficasse muito tempo na cama. Tomou o café e foi para o trabalho. Tatiana era diarista. No meio da manhã, ligou para o marido para que ele acordasse. João está desempregado, mas faz alguns bicos como mecânico em uma oficina.
— Era ela quem me acordava. Sinto muita saudade das ligações pedindo que eu levantasse da cama. Sinto falta de chegar em casa e encontrar ela — contou João.
O casal tem três filhos: Estefani, 20 anos, Alan, 18, e Sophia, de apenas um ano e 10 meses. Após o acidente, Estefani, que estava morando na Capital, retornou para a casa da família no Beco do Soares, em Viamão. Ela conta que o maior sofrimento é ver a bebê chamando pela mãe e não saber o que dizer.
— Era a mãe quem buscava a bebê na creche e ficava com ela até de noite. Agora, ela chora, pede pela mãe, e a gente não sabe o que fazer — diz a filha.
No início da tarde daquela quarta-feira, após o trabalho, Tatiana passou na casa da filha na Avenida Bento Gonçalves e pegou o cãozinho Bud, da raça Yorkshire. Havia a suspeita de que ele estivesse com a pata fraturada. A intenção era levá-lo até a escola de veterinária da UFRGS. Ao chegar ao local, foi avisada de que não havia raio X disponível e teria de retornar outro dia.
No momento em que voltava para casa, pela Avenida Bento Gonçalves, o carro de Tatiana foi atingido na lateral pelo Kia Ceratto conduzido por Antonio Hygino Alcântare Vieira, 63 anos. Ela morreu na hora. O cachorro sobreviveu. O motorista fugiu e, na RS-040, colidiu em outros quatro carros. Acabou preso. Dentro do veículo, foi localizada uma porção de cocaína. O teste do bafômetro deu negativo.
O motorista foi encaminhado à Delegacia de Pronto Atendimento de Viamão e autuado por homicídio culposo (sem intenção de matar). O juiz Eduardo Ernesto Lucas Almada negou o pedido de prisão preventiva e determinou prisão domiciliar. Como medida cautelar, o motorista está proibido de dirigir veículos e teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) apreendida.
— Como a autuação do delegado plantonista foi pelo crime culposo, entendi que o mais correto era encaminhar à prisão domiciliar — disse o magistrado.
A Delegacia de Delitos de Trânsito é que investiga o caso. Foi coletado sangue do motorista, mas o laudo ainda não ficou pronto. O delegado Eibert Moreira pretende ouvir o condutor nesta quinta-feira (30), na casa do acusado, e pretende concluir o inquérito no início da próxima semana.
— Dependendo do que ouvirmos e dos laudos periciais, podemos mudar o entendimento do tipo de crime e ele ser encaminhado para a prisão — explicou o delegado.
Para a família de Tatiana, é triste ver o causador do acidente solto.
— Acho que, se ele matou, tem de estar na cadeia — desabafou Estefani.