Terminou em agressão uma reunião ocorrida em um centro de referência do bairro Belém Novo, na zona sul de Porto Alegre, no último dia 19. Em um vídeo postado no perfil do educador Bruno Farias no Facebook, o líder comunitário Caio Paixão, conselheiro titular do Orçamento Participativo na região, aparece dirigindo-se a Farias e jogando-o no chão, além de atingir uma senhora que estava no local no momento da confusão. Até a tarde desta quarta-feira (25), a postagem já tinha sido visualizada por mais de 13 mil usuários.
Convocado pelo conselheiro do OP, o encontro realizado no Centro de Relação Institucional Participativa (Crip) da Zona Sul tinha como objetivo apresentar o projeto de um empreendimento previsto para a região da Fazenda Arado Velho a lideranças comunitárias. Contrários ao empreendimento, integrantes do movimento Preserva Arado foram ao local reivindicando a abertura do evento à comunidade, e assistiram à apresentação. Ao final do encontro, Paixão teria acusado o grupo de incitar indígenas guaranis a tomarem posse do local. A declaração teria sido rebatida pelo educador, o que, supostamente, motivou a reação violenta do conselheiro.
— Ele disse: "quero ver o que vocês vão fazer com os índios que vocês colocaram lá". Eu disse que ele não podia nos acusar daquela forma, mas não esperava aquela reação. Me jogou no chão e arrancou meus óculos — conta o morador do Belém Novo, que registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil e fez um relato lamentando o fato em sua página no Facebook.
O episódio controverso não impediu que Paixão fosse reeleito, nesta semana, para mais um mandato como conselheiro titular da 13ª Região do Orçamento Participativo. Na segunda-feira (23), Farias encaminhou uma carta à coordenação do OP solicitando a impugnação da candidatura de Paixão à reeleição devido à agressão, e pedindo a palavra durante a assembleia que seria realizada na terça-feira (24). Não ganhou direito à manifestação. O pedido de impugnação, segundo informou o secretário-adjunto de Relações Institucionais Carlos Siegle, que comandou o evento, será avaliado ao final da rodada de assembleias, que vai até 6 de agosto. Procurado pela reportagem, o conselheiro reeleito recusou-se a falar por telefone e disse que está sendo alvo de perseguição.
— Temos de seguir uma ordem em todas as assembleias. Infelizmente, não podemos abrir uma exceção — disse Siegle durante o evento, após a eleição.
No encontro realizado no CTG Lanceiros da Zona Sul, a chapa única liderada por Paixão foi reeleita por aclamação (quando não é realizada votação) para representar a comunidade nas demandas encaminhadas à prefeitura até 2019. Mais numerosa entre as assembleias realizadas pelo OP neste ano, com 624 pessoas, a reunião foi marcada por uma intensa participação popular.
Realizado em uma das regiões mais precárias em infraestrutura da Capital, o evento no Extremo-Sul contou com reivindicações acaloradas por serviços básicos, como pavimentação e limpeza de valos. Por diversos momentos, lideranças comunitárias criticaram a prefeitura — a ausência do vice-prefeito Gustavo Paim, creditada a um resfriado, foi motivo de risada entre os presentes. Único dos quatro integrantes de sua chapa a elogiar veementemente os esforços do Executivo para, mesmo sem dinheiro, promover melhorias na região, Paixão foi vaiado por boa parte do público — rebateu com um ditado: "quando um burro fala, os outros baixam as orelhas". Uma salva de palmas tímida coroou a reeleição da chapa.