A divulgação do nome de Ivsem Gonçalves, na quarta-feira (9), como envolvido em desvio de dinheiro da Carris usando a identidade de uma criança morta causou alvoroço no meio político, já que nos últimos anos ele tem transitado em cargos na Câmara Municipal de Porto Alegre, na prefeitura e até no governo do Estado, sempre ligado ao MDB.
Um e-mail que partiu do gabinete do prefeito em outubro de 2014 explica mais sobre o caminho que fez Ivsem chegar a uma vaga na Unidade de Finanças da Carris, de onde R$ 1,7 milhão foi desviado em indenizações por acidentes inventados.
Na quarta-feira (9), depois de o Ministério Público (MP) fazer buscas na casa de Ivsem durante a Operação Antares, o ex-presidente da companhia, Sérgio Luiz Duarte Zimmermann, disse em entrevista a Rádio Gaúcha, que Ivsem foi indicado pelo MDB, na cota do ex-vereador Professor Garcia.
— Recebi não só indicação política como fui buscar quem era esse rapaz. Me informaram que ele era um herói da Polícia Civil, que foi aposentado por ter sido baleado em ação de combate, foi condecorado, era formando em Administração, tinha ótima formação, já tinha ocupado um cargo elevado na Câmara. Então, eu achei que ele estava habilitado — afirmou Zimmermann.
Nesta quinta-feira (10), GaúchaZH teve acesso ao e-mail que determinou a contratação de Ivsem. A mensagem teria sido enviada a Zimmermann pelo chefe de gabinete do prefeito José Fortunati, em 27 de outubro de 2014. O texto dizia:
"Prezado secretário,
Por ordem do Sr. Prefeito, solicito providências para exoneração de Roberto Ilhescas e nomeação de Ivsem Gonçalves em cargo comissionado EC5 de sua pasta.
Atenciosamente,
Ricardo Gothe
Chefe de Gabinete do Prefeito".
Sobre o e-mail, Zimmermann explicou nesta quinta-feira (10) que era um procedimento comum nos processos de contratação de indicados políticos. Também garantiu que Ilhescas já estava buscando vaga no mercado e que o e-mail tratando de sua exoneração apenas formalizou sua saída da empresa. O ex-prefeito José Fortunati também confirmou o procedimento:
— Há as cotas dos partidos, que devem fazer as designações dos nomes. Eu não olhava nomes, não conhecia as pessoas. O Ricardo (chefe de gabinete) também não entrava no mérito. Ele encaminhava a indicação para as secretarias ou para presidentes de empresas e quem estava recebendo o funcionário é que deveria avaliar se a pessoa tinha as condições técnicas para aquele cargo. E de três em três meses era feita avaliação do trabalho da pessoa.
A admissão de Ivsem na companhia ocorreu em 24 de novembro de 2014. Ele ingressou como coordenador de almoxarifado e passou a coordenar a unidade de finanças menos de três meses depois do ingresso, em 3 de fevereiro de 2015. Na investigação dos desvios, o MP afirma que foi esse cargo que deu a Ivsem a facilidade para executar as fraudes.
Ivsem deixou a Carris em março de 2017. Ao longo do ano, ingressou com ação trabalhista contra a empresa pedindo a nulidade do contrato de trabalho por prazo determinado, o que possibilitaria a ele receber verbas rescisórias pela demissão, e também o pagamento de horas-extras. O pedido inicial é de R$ 100 mil.
Em dezembro, Ivsem foi nomeado assistente especial na Casa Civil do governo José Ivo Sartori, com salário bruto de R$ 7,5 mil — a indicação foi do vereador Pablo Mendes Ribeiro. Depois de desencadeada a Operação Antares, o partido se apressou para verificar possíveis doações de Ivsem — usando o próprio nome ou a identidade do morto — para a sigla e divulgou notas oficiais. No começo da tarde da quarta-feira, Ivsem já estava exonerado do cargo em comissão recém assumido na bancada do MDB na Câmara de Vereadores. Ele retornara ao legislativo municipal em abril pelas mãos do vereador Mendes Ribeiro, líder da bancada do partido.
Ainda sobre as credenciais de Ivsem destacadas por Zimmermann para ser aceito em uma vaga da Carris, pelo menos uma não procede. O Departamento de Administração Policial informou ao GaúchaZH que no sistema de servidores do Estado Ivsem não consta como policial civil ativo ou aposentado.
Ivsem Gonçalves no poder público
Câmara Municipal
27/03/2006 a 31/01/2007: cargo de assistente parlamentar, lotado no gabinete do vereador Professor Garcia
Prefeitura de Porto Alegre
11/2009 a 02/2011: assessor técnico lotado no gabinete do secretário da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam)
Câmara Municipal
14/02/2014 a 02/11/2014: cargo de assistente do gabinete da Presidência, lotado na Presidência
Carris
24/11/2014 a 27/03/2017: ingressou como coordenador de almoxarifado. Em 03/02/2015 se tornou coordenador da Unidade de Finanças
Governo do Estado
12/12/2017 a 05/04/2018: cargo de assistente na Casa Civil
Câmara Municipal
23/04/2018 a 08/05/2018: cargo de assessor parlamentar de bancada, lotado na bancada do MDB. Foi exonerado em 9 de maio, depois de se tornar alvo da Operação Antares.
Contraponto
O que diz Klayton Tópor, advogado de Ivsem Gonçalves:
"Optamos por não nos manifestar no momento, até ter pleno conhecimento da investigação".