O ex-prefeito de Porto Alegre José Fortunati (PSB) disse que não conhecia o ex-funcionário da Carris Ivsem Gonçalves, de 58 anos, alvo de operação do Ministério Público nesta quarta-feira (9) por suspeita de desviar R$ 1,7 milhão da empresa. Conforme as investigações, os desvios teriam ocorrido entre 2015 e 2017, na gestão de Fortunati. Em entrevista ao Gaúcha +, o ex-prefeito disse que foi uma indicação do MDB para o cargo e que o nome não passou por ele:
- São indicações feitas de forma específica para determinadas secretárias ou, no caso, para essa empresa, que é uma autarquia. Obviamente, isso não passou por mim, eu não tinha nenhuma obrigação. Eu não validava as nomeações feitas.
Segundo Fortunati, na sua gestão, as indicações sempre ocorriam "com o crivo dos partidos", para ser uma espécie de "primeiro filtro". Garante que nunca recebeu indicações de nomes de forma direta por políticos. O ex-prefeito disse ainda que mais da metade do quadro de cargos em comissão era de técnicos, sem relações políticas.
- Não sou contra que os partidos façam indicações, desde que as indicações sejam feitas através de pessoas éticas, capacitadas, que tenham postura adequada para trabalhar pelo bem público. Esse é o pressuposto que todos nós desejamos.
O esquema, passo a passo
- Ao assumir a Carris, no começo de 2017, a nova gestão detectou irregularidades em processos de pagamentos de indenizações por acidentes de trânsito causados pela companhia. Ao analisar documentação, descobriu cerca de R$ 800 mil em pagamentos irregulares.
- As suspeitas foram levadas ao Ministério Público, que abriu investigação.
- Ao investigar um nome que se repetia como beneficiário, como advogado de beneficiário ou como pessoa autorizada a receber valores destinados a outros beneficiários, o MP descobriu que o nome de uma criança morta em 1961 estava sendo usado na fraude. A lápide do menino falecido está localizada no cemitério São Miguel e Almas.
- Ao cruzar dados, a Promotoria Especializada Criminal verificou que um ex-funcionário da Carris, Ivsem Gonçalves, havia feito, em 1996, carteira de identidade em Santa Catarina em nome da criança e, com o documento, desviava valores de indenizações.
- Foi apurado que o documento do morto foi usado também para abrir conta bancária, comprar carro e doar dinheiro para campanhas do PMDB.
- O MP apurou que entre 2015 e 2017 a Carris pagou R$ 1,7 milhão em indenizações por acidentes de trânsito com base em documentação falsificada.
- O dinheiro teria sido todo revertido para Ivsem e familiares.
- Para justificar pagamentos, Ivsem usou, como beneficiários, nomes de pessoas mortas, de pessoa possivelmente ligadas à fraude e também de outros que sequer sabiam que tiveram os nomes usados. Processos judiciais foram inventados assim como sentenças, falsificadas.
- Além de Ivsem, o MP investiga, nesta etapa da Operação Antares, dois filhos dele, que teriams e beneficiado de valores. Gestores da Carris da época em que ocorreram os desvios serão chamados a prestar esclarecimentos. Quem recebeu dinheiro ou doações a partir do nome da criança morta também será chamado a depor.