A chuva forte que caiu em Porto Alegre neste sábado (21) não impediu os colecionadores do álbum da Copa do Mundo de manter a tradição de trocar as figurinhas na esquina da Avenida José de Alencar com a Rua Mucio Teixeira, no bairro Menino Deus. O local é um dos principais da cidade em que os colecionadores se encontram, há anos, para completar álbuns de futebol, especialmente aos sábados.
No chão de pedra sob uma marquise, Luís Tadeu e seu filho Vitor, de nove anos, procuravam, na pilha de figurinhas repetidas de outra dupla, oportunidades de troca. Ao lado deles, também no chão, Rafael Anschau e seu filho Gabriel, de sete anos, fizeram o mesmo para concretizar, minutos depois, a troca. Assistindo à cena, não era possível saber se eram os pais ou os filhos os mais envolvidos na coleção.
— Esta é a quarta vez que viemos aqui. Já Trocamos umas 160 figurinhas. Já gastei uns R$ 320. Vale a pena porque motiva a criança à leitura, memorização, cálculo e socialização. E o mais importante é a parceria entre pai e filho. São essas pequenas coisas que aproximam a gente — conta Rafael.
— Ajuda bastante na geografia também. Ele já está perguntando o que é Europa, onde fica a Oceania. Quando fomos começar, a primeira coisa que eu falei foi: "Bah, são seiscentas e poucas figurinhas! Vai me dar trezentos e poucos pilas!". Mas, aí, eu pensei: "Diversão pai e filho não tem igual" — completou.
Apesar de emocionado com as trocas e com o ambiente amistoso da esquina, para Tadeu falta, ali, o jogo do bafo.
— A única coisa que eu achei ruim daqui é que não se bate mais figurinha. Não existe mais o bafo! Como essa figurinha é autoadesiva atrás, fica muito pesada — reclama Tadeu, que conta ter feito um álbum caseiro com as figurinhas da Copa de 1982 que vinham de brinde com chicletes.
Bafo é uma disputa em que o jogador põe figurinhas no chão e se reveza com os demais para bater sobre elas, com a palma da mão, e, assim, tentar virar as imagens. Cada um fica com as figurinhas que conseguir virar em cada batida.
Fabrício Satller, de sete anos, era mais habilidoso e não encontrava dificuldade em virar as figurinhas da Copa com uma batida. De passagem por Porto Alegre para ver familiares, ele contou que, em São Paulo, disputa as figurinhas no recreio do colégio. Bruna Gusmão, de 22 anos, familiar do pequeno Fabrício, parecia catatônica organizando as pilhas de imagens e a planilha das figurinhas que faltam para completar o álbum.
— Eu vejo como qualquer objetivo da vida. Tudo começa do zero e a gente vai subindo escadinhas, achando as figurinhas e chega ao objetivo final de ter o álbum completo. É legal essa dificuldade que aparece, tu vais até as pessoas, elas também não têm, e quando tu encontras aquela que falta fica mais divertido.
Jéferson Moura, de 56 anos, era um dos cerca de 40 trocadores de figurinhas que estavam no local por volta das 15h deste sábado. Colecionador convicto, não depende da companhia de crianças para justificar a própria diversão.
— Eu faço todos os álbuns. Brasileirão e Copa do Mundo. Gastei um dinheiro já. Mas comprando e revendendo depois (as repetidas), tiro o prejuízo. Completei todos os álbuns que fiz até agora. O importante é que só comprando figurinha tu não consegues completar. Tem que trocar. Gastei R$ 870 em figurinhas, mas vendi a maior parte, então gastei R$ 300 para completar o meu álbum — conta Moura, que gosta tanto do troca-troca que, mesmo com o seu álbum completo, levou as figurinhas de um amigo do trabalho para a esquina.
Em dias ensolarados, a população de colecionadores é maior. Segundo o dono da banca de revistas que fica na mesma esquina, Mozart Maciel, de 51 anos, no sábado anterior havia ao menos 200 pessoas na atividade. Enquanto crianças, adultos e idosos trocam imagens, ele assiste a tudo e comemora o aumento do movimento.
— É o 13º (salário) dos jornaleiros — brinca.