Pequeno mas altamente venenoso, o escorpião amarelo se espalhou por diferentes regiões de Porto Alegre a partir da década passada — com o registro na Avenida Assis Brasil na última semana, já são quatro áreas infestadas. Além de uma das principais vias da Zona Norte, há casos de pessoa picada ou mais de um animal encontrado na Vila Quinta do Portal (Lomba do Pinheiro), na Rua Senhor dos Passos e arredores (Centro Histórico) e na região da Ceasa (Anchieta).
Fabiana Ninov, bióloga da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, relata que a situação mais grave ocorreu em outubro do ano passado, quando uma criança da Vila Quinta do Portal ficou três dias internada na UTI após uma picada. Neste ano, não houve registros de acidentes (picadas). Mas, quando esse artrópode de até sete centímetros é encontrado pela cidade, pode indicar que há uma infestação embaixo da terra.
— Como nos encanamentos subterrâneos tem bastante barata (fonte de alimentação) e umidade, normalmente o escorpião fica por ali. Ele vem para fora quando a população está muito grande — explica Fabiana.
Como o animal se espalhou?
A bióloga relata que a espécie Tityus serrulatus é originária de Minas Gerais, de onde se disseminou para outros Estados. Especialistas acreditam que foi transportado na caçamba de caminhões de hortifrutigranjeiros.
O primeiro registro do animal na Capital foi justamente na Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa), em 2001. Dali, acredita-se que foi levado para várias cidades do Rio Grande do Sul. Mais de 40 municípios registraram acidentes (picadas) nos últimos cinco anos.
O escorpião amarelo se reproduz por partenogênese: só existem fêmeas, e todo indivíduo adulto pode parir sem a necessidade de acasalamento, fenômeno que facilita sua dispersão.
— Faz autofecundação: no corpo dela, o óvulo se divide e nascem os escorpiões, em torno de 20 por vez. Cada animal vive em torno de quatro anos e pode ter até 160 filhotes — conta Fabiana.
O animal ainda tem grande capacidade de adaptação, tanto a áreas frias quanto quentes, e é muito resistente. Fabiana relata que podem viver até seis meses sem alimento e água.
Onde foi encontrado em Porto Alegre?
Quinta do Portal: é uma vila da Lomba do Pinheiro que começou a ter registros de escorpiões amarelos em 2015. Fica próximo da estação de transbordo, aspecto determinante para a infestação no local, segundo Fabiana.
Ceasa: foi onde apareceu pela primeira vez, em 2001, e pela segunda, em 2005, já com 10 animais encontrados no pátio, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. A Ceasa contratou uma empresa para fazer o controle, e neste ano ainda não teve registros de acidentes (picadas), mas mas foram capturados dez escorpiões amarelos, segundo a Vigilância em Saúde.
Centro Histórico: área com grande densidade demográfica e circulação de pessoas, a Rua Senhor dos Passos e arredores é onde foi registrado maior número de visualizações recentes na Capital (no começo do ano, oito animais).
Passo D'Areia: em um prédio na quadra entre a Avenida Assis Brasil e a Rua João de Magalhães, na Zona Norte, foram encontrados quatro escorpiões na semana passada.
São Geraldo: a Vigilância em Saúde teve a confirmação do aparecimento de escorpião amarelo em um salão de beleza no bairro São Geraldo em abril.
Qual o perigo da picada?
A picada do escorpião amarelo pode levar à morte, mas as reações dependem da quantidade de veneno inoculado e do organismo da vítima. Em geral, gera dor local intensa, que tende a se alastrar para o resto do corpo, com possibilidade de tontura, náusea, taquicardia e desmaios. A bióloga relata que mais de 90% das pessoas infectadas sobrevivem, mas crianças, idosos e pessoas com o organismo fragilizado por alguma doença correm mais risco.
O que fazer se fui picado?
Em Porto Alegre, a recomendação é ir direto ao Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde há o soro antiescorpiônico. Não se recomenda fazer torniquete ou algo parecido. A única medida caseira que pode ser tomada antes é lavar com água e sabão, segundo Fabiana.
O que fazer para evitar o animal?
O escorpião entra nas casas em busca de baratas, então deixar a sua residência sempre limpa é importante. Nos pátios, eles se escondem no meio de entulhos, por isso não acumule lixo e restos de materiais de construção. Fabiana acrescenta que o animal gosta de se esconder em lugares escuros. Podem entrar em sapatos, armários, frestas das paredes, encanamentos, embaixo de sofás, entre toalhas e cortinas. Usar telas nos ralos também é uma dica.
Se encontrei um escorpião, como procedo?
A indicação é matar o animal, preferencialmente usando um instrumento rígido, com haste longa, para não chegar perto. Tente esmagá-lo o máximo possível, uma vez que é resistente. Se você decidir pisar nele, não o faça com calçado aberto. Não é aconselhável usar inseticida para combater os escorpiões, pois deixa ele mais nervoso e agressivo, segundo Fabiana.
Também é essencial ligar para o 156, para que a Vigilância em Saúde vá até o local fazer a busca e a orientação às pessoas.
O escorpião amarelo é a única espécie na cidade?
Não. O mais comum em Porto Alegre é o escorpião preto (Bothriurus bonariensis), que não é considerado de importância médica. Seu veneno é pouco tóxico e, quando pica, pode causar dor local ou reações alérgicas.