Com discurso focado na crise financeira da Capital, temperado com brincadeiras e até um "autobullying" sobre os problemas de capina, o prefeito Nelson Marchezan apresentou a empresários nesta terça-feira (27) suas propostas para retomar o desenvolvimento. Falou em extinção de estatais e, após um ano de atritos com municipários, em arrependimento pelo corte de assessores com cargos em comissão (CC).
Diante de cerca de 230 pessoas na primeira reunião-almoço do ano da Associação Comercial de Porto Alegre, Marchezan destacou que passa pela Câmara Municipal a maior parte das propostas para equilibrar receitas e despesas e realizar as Parcerias Públicos-Privadas apresentadas como solução para a falta de recursos.
— O nosso maior empecilho é conseguir maioria para aprovar os projetos. Esse é o foco e o grande entrave hoje — disse, sem pontuar mudanças na abordagem a vereadores para aprovar as pautas rejeitadas na Câmara em 2017.
Depois da reprovação no Legislativo, Marchezan pretende enviar à Câmara um projeto atualizado de revisão da planta do IPTU – ele voltou a destacar que "Porto Alegre tem o IPTU mais injusto socialmente do Brasil" –, além de apresentar projetos tidos como de baixo e médio impacto, com resultados imediatos, como o que se refere ao cadastro de devedores de Porto Alegre.
A uma plateia amistosa, o prefeito fez declarações incisivas sobre reduzir a estrutura pública. Disse ser necessário extinguir a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), tirando a assistência social "das mãos de uma estrutura partidarizada". E voltou a ressaltar os problemas da Carris, afirmando que a empresa dá prejuízo de R$ 60 milhões ao ano:
— Tem que extinguir a Carris, tem. Alguém aqui quer comprar? Alguém aqui conhece algum comprador?
Defesa de cargos em comissão
Marchezan voltou a exibir gráficos que mostram o aumento do déficit das contas públicas nos últimos anos, comentando sobre o cenário delicado com a perda do aval do Ministério da Fazenda para financiamentos internacionais. Ele destacou também as medidas tomadas no seu primeiro ano de gestão para reduzir despesas. Ao citar o corte de assessores com cargos em comissão (CC) realizado no ano passado, provocou:
— Estou até arrependido. Porque quando tem greve, quem segura é o CC. Quem vai cozinhar na Bom Jesus, nos abrigos, é a diretoria CC.
Alegando que "a gestão tem limites", Marchezan comentou assuntos pelos quais foi criticado nas últimas semanas, como os buracos no asfalto e problemas com capina – o município ficou entre setembro e janeiro sem o serviço. Arrancou risos quando perguntou quem queria reclamar da grama alta, e mais ainda ao dispensar que o público levantasse a mão, porque taparia a vista do palestrante. Na sequência, levantou a questão:
— Para tapar buraco precisa de dinheiro para comprar o asfalto. Eu escolho pagar a merenda da creche ou o asfalto e a capina?
O prefeito citou ainda a retomada das obras da Copa, prevista para as próximas semanas em razão de um financiamento no Banrisul.
Presidente da Associação Comercial de Porto Alegre, Paulo Afonso Pereira destacou que a entidade está apoiando a prefeitura em busca do equilíbrio de despesas e receitas, executando um "movimento de aproximação com o Legislativo" – já realizaram reuniões com o prefeito e com vereadores no Palácio do Comércio.
— Queremos ajudar que essa realidade seja percebida, para que haja uma ação conjunta — comentou.
Integrante do sindicato hoteleiro, o empresário Ricardo Ritter disse ter havido evolução em relação às propostas apresentadas por Marchezan no ano anterior.
— Ano passado, foi mais o quadro negativo. Agora, já há propostas — disse.