Nas paredes, o vermelho e o azul tomam conta do salão de festas localizado no bairro Sarandi, em Porto Alegre. Uma bandeira nas mesmas cores está pendurada no centro do lugar e, logo mais, ficará lado a lado com o lábaro verde e amarelo.
– Queremos colocar a bandeira do Brasil ali para mostrar essa miscigenação, essa união com o Haiti – justifica Ilisiane Vida, líder da Ocupação Progresso, moradia de centenas de imigrantes.
A decoração minuciosa vai colorir a festa que reunirá haitianos e brasileiros para celebrar a entrada de 2018. Na noite do dia 31, mais de 80 pessoas são esperadas para dançar, comer pratos típicos haitianos e se divertir. Mas a preparação para receber o público já começou neste sábado (30).
– Estamos celebrando a entrada do ano, mas também é uma data especial para nós por ser a comemoração da independência do nosso país, em 1º de janeiro – explica Esteevy Mc Fleury Joseph, 31 anos, professor de idiomas que está no Brasil desde 2016.
Justamente por isso, há um item que não pode ficar de fora da festa: a soup joumou – uma mistura de batata, abóbora e carnes. À época da escravidão, os negros não tinham acesso a esse prato. Hoje, tomar a sopa tem gosto de liberdade, como conta Oles Blanc, 32 anos, trabalhador da construção civil que chegou ao país há três anos:
– Temos que beber, é um símbolo depois da escravidão. Vamos tomar em qualquer lugar do mundo porque é mais do que lembrar o Haiti, é também da cultura negra. E queremos que os brasileiros participem também. É uma oportunidade de agradecer as oportunidades que os brasileiros nos dão.
Da cozinha, o aroma invade o salão e faz a boca salivar. Roselaure Michel, 29 anos, comanda os trabalhos no fogão. O destaque do dia 31 será o fritay, prato que leva carne frita bem temperada, banana frita e pikliz (semelhante a uma salada de cenoura e repolho).
– Gosto de cozinhar. E gosto do Brasil porque aqui tenho emprego. No Haiti, quase nenhuma mulher trabalha – conta Roselaure, que veio para o Brasil com o marido em 2014 e, aqui, deu à luz Yves Olivio Michel Theneu, de 3 anos.
O encontro deve contar com presença de moradores da Ocupação Progresso e de diferentes bairros da Zona Norte, mas será aberto ao público – o ingresso é R$ 50, e a festa começa às 21h na Avenida Senhor do Bom Fim, 1.023.
– A maioria dos haitianos vêm pra cá sozinhos. Nas festas de fim de ano, gostamos de estar com a família, alguém que temos vínculo. Foi assim que nasceu a ideia da festa. Cada um foi ajudando um pouquinho – relata Ilisiane. – Já têm vários brasileiros que compraram convite. Vai ser uma grande festa – completa.