Ao colocar abaixo a estrutura do clube de futebol amador Bulas, a prefeitura de Porto Alegre criou uma discordância com a comunidade local. A reintegração de posse na Zona Norte, ocorrida no dia 11, indignou moradores da região e frequentadores da entidade criada há mais de 30 anos, que ocupava uma área do município na Avenida Dante Ângelo Pilla.
Na praça que leva o nome de Nelson Marchezan (1938-2002), pai do prefeito da Capital, havia uma casa, um bar, uma cancha de bocha e duas quadras esportivas — apenas as quadras foram mantidas. A demolição foi amparada por uma decisão judicial.
— Na década de 1980, um grupo de moradores criou o Bulas pela necessidade de um local para praticar esportes. Não tinha nada na comunidade, aquele terreno era tudo mato. Eles desmataram e começaram a construir com recursos próprios esse clube de futebol, que com o tempo foi se desenvolvendo e aumentando. Hoje, várias escolinhas de futebol usam o local para treinos. Construíram vestiários e toda a estrutura — afirma Teresinha Vallerius, irmã de Valmor Vallerius, responsável pelo clube.
Em uma liminar solicitada pela prefeitura, o juiz José Antonio Coitinho, da 2ª Vara da Fazenda Pública, afirma que, embora a entidade apresente comprovante de que a área foi destinada pelo município para o clube, "a mesma vem sendo utilizada irregularmente com atividades de bar e estacionamento". O magistrado também ressalta que o município tem "o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha". A ação tramita na Justiça desde 14 de novembro.
A casa era usada como moradia pelo responsável pelo clube, conforme conta Teresinha, acrescentando que o irmão não teve tempo de retirar seus pertences e de se preparar para a reintegração:
— Agora, ele está morando com nossa irmã e está muito abalado. É muito complicado, aquilo fazia parte da vida dele. Só deixaram as goleiras do campo de futebol, o resto demoliram tudo. Aquilo era da comunidade, todos podiam ir. A comunidade toda está revoltada.
A prefeitura afirmou que toda a ação de desocupação foi realizada em conformidade com a lei e acompanhada por equipes da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) e pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O Executivo ainda sustentou que não havia nenhum tipo de contrato para a ocupação e exploração do espaço, que deve ser revitalizado. Conforme o município, há R$ 1,5 milhão de emendas parlamentares para a reforma.
Vinícius Araújo, 35 anos, morador do bairro desde que nasceu, relata que a comunidade foi pega de surpresa:
— A história do bairro Costa e Silva passa pelo Bulas. Vi relatos nas redes sociais de pessoas que foram embora há 20 anos e que sentem saudade da época do Bulas. Foi bem de surpresa. Eu só soube no dia que estavam com as maquinas colocando o lugar abaixo. Não deu tempo de reivindicar, de tentar entrar em contato com a prefeitura para que não o fizessem. Eu desconheço qualquer iniciativa da prefeitura em conversar com a comunidade.
Na página no Facebook Acontecimentos Zona Norte, que informou sobre demolição, a comunidade local fez comentários indignados, inclusive em resposta a uma nota publicada pelo perfil da prefeitura. Na manhã desta segunda-feira (18), havia 1,2 mil manifestações e 6,1 mil compartilhamentos.