O debate sobre a implantação de linhas de aeromóvel em Porto Alegre voltou a ganhar fôlego. A empresa Aeromóvel Brasil S/A apresentou à prefeitura uma proposta de revitalização e ampliação do trecho de testes já existente, localizado nas proximidades da Usina do Gasômetro, para entrar em operação regular 35 anos depois de sua construção.
A intenção é buscar o aval do município para que a iniciativa privada coloque em uso e opere a antiga linha depois de ser renovada e ampliada por uma distância ainda não definida. Estimativas de demanda, custos e o trajeto final ainda serão detalhados em estudos a serem realizados em um prazo estimado de seis meses.
— A ideia é achar um traçado viável e que tenha demanda, que se encaixe no sistema de mobilidade da Capital, para entrar em funcionamento como uma operação privada — afirma o CEO da Aeromóvel Brasil, Marcus Coester.
Na manhã desta segunda-feira (27), a empresa entregou a representantes da prefeitura uma proposta de manifestação de interesse para desenvolver o projeto na cidade sem necessidade de recursos municipais. É um primeiro passo para a proposta ser melhor estudada e ganhar contornos mais claros. Uma das definições pendentes é o modelo jurídico que poderia ser adotado caso a ideia avance, combinando o investimento e a operação privados com a gestão pública da mobilidade urbana.
Em relação ao traçado, há diferentes possibilidades no horizonte — todas aproveitando o trecho de linha já existente. Uma delas prevê a interligação do Centro com a Zona Sul. Em 2013, mediante um acordo de cooperação entre a prefeitura e a Trensurb, chegaram a ser realizados estudos de demanda para esse eixo, que previa três fases de implantação: do Mercado até as proximidades do Praia de Belas Shopping, de lá até o Cristal, e um último percurso até a Juca Batista. Estimou-se que a ligação entre o Mercado e o shopping — uma das mais cotadas para sair do papel — movimentaria algo em torno de 30 mil passageiros por dia.
O projeto acabou arquivado. Um dos desafios, segundo o gerente de Planejamento de Mobilidade da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Luis Claudio Ribeiro, é garantir que trajetos curtos como a rota Centro-Praia de Belas (com pouco mais de quatro quilômetros) sejam viáveis financeiramente sem valores elevados de passagem ou subsídio público. Marcus Coester garante que um número mínimo de 20 mil passageiros por dia já tornaria o sistema sustentável.
Por isso, a iniciativa privada estaria disposta a tocar a obra mesmo sem dinheiro da prefeitura — o prefeito Nelson Marchezan já informou ao empresário que é uma condição para a continuidade das negociações.
— Com 20 mil passageiros, é possível colocar o aeromóvel em funcionamento com um valor de passagem equivalente à de um ônibus, algo próximo de R$ 4 hoje — afirma Coester.
Outra possibilidade seria erguer um percurso em formato de anel seguindo o traçado da Primeira Perimetral — ao longo das vias Loureiro da Silva, Mauá, Conceição e do Gasômetro. As linhas gerais do plano foram apresentadas durante o seminário Aeromóvel — Solução ou Utopia? realizado pela Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs). Até pouco tempo, os vagões impulsionados por ar disputavam atenção e recursos com concorrentes como metrô e BRT. Como o metrô está momentaneamente descartado, e os BRTs previstos para a Copa de 2014 não foram implantados, o aeromóvel voltou a ganhar visibilidade. Os rumos da proposta vão depender, a partir de agora, dos novos estudos a serem apresentados ao município.