Promessas, promessas, promessas. A Porto Alegre do papel não tem congestionamentos, tem várias alternativas de transporte e só precisaria de carros voadores para ser mais eficiente do que a Orbit City, famosa cidade do desenho norte-americano "Os Jetsons". Mas, assim como Orbit City, só existe na imaginação.
Algumas das obras que modernizariam a Capital foram prometidas em campanhas eleitorais desde a década de 1990. Ganharam espaço na mídia com a garantia de que Porto Alegre seria uma cidade do futuro – e entraram em uma espiral de debate da qual nunca saíram, como conta o engenheiro civil e doutor em Transportes, João Fortini Albano.
– A todas as obras propostas para Porto Alegre, sucede-se uma grande discussão. E surge gente detonando essas ideias. Há uma grande movimentação negativa com relação a qualquer novidade no sentido de melhorar nossa cidade. Mas, de uma maneira geral, nós lutamos contra a falta de recursos e contra uma discussão absolutamente não técnica sobre as nossas obras – avalia.
Veja, a seguir, 10 promessas que poderiam melhorar a vida de quem circula em Porto Alegre, mas nunca saíram do papel:
1) Portais da Cidade
A organização no transporte coletivo de Porto Alegre começaria com a implementação do projeto Portais da Cidade, prometido ainda em 2006 pelo prefeito José Fogaça. Ônibus procedentes dos bairros chegariam em três grandes portais, nas avenidas Cairu, Princesa Isabel e Edvaldo Pereira Paiva, a Beira-Rio.
De lá, passariam linhas rápidas, a cada três minutos, que conduziriam os passageiros ao Centro. Mas em 2011 a iniciativa foi arquivada pelo prefeito José Fortunati – ganhava força a construção do metrô.
2) Metrô
As primeiras discussões surgiram ainda na década de 90. Muitos traçados foram apresentados com o objetivo de contemplar diferentes regiões da cidade.
Em 2009, durante o governo Fogaça, o projeto ganhou força quando se analisou as iniciativas que que estariam no pacote de obras de preparação para a Copa do Mundo de 2014. No entanto, já se alertava que o metrô poderia ser inviável por causa da falta de recursos.
Já no comando de Fortunati, em 28 de março de 2011, a prefeitura cadastrou o projeto do metrô no sistema do PAC Mobilidade Grandes Cidades. O Governo Federal prometia colocar à disposição R$ 18 bilhões, sendo R$ 6 bilhões do Orçamento da União e R$ 12 bilhões na modalidade de financiamento.
A presidente Dilma chegou a anunciar a obra em outubro de 2011 e outubro de 2013. Porém, em 30 de dezembro de 2016, já no comando de Michel Temer, o governo federal informou que todo o recurso destinado para a obra foi retirado porque a prefeitura não conseguiu, em quase dois anos, formalizar a contratação das operações de crédito junto aos agentes financeiros do programa.
3) BRT (transporte rápido de ônibus)
Em 11 de março de 2013, ZH destacava, em sua versão online: "Corredores BRT irão transformar o trânsito de Porto Alegre". Inclusive, um "ônibus do futuro", com 24 metros de comprimento e capacidade para 166 passageiros chegou a ser apresentado no centro. Era uma amostra do modelo que circularia a partir de março de 2014, antes da Copa do Mundo.
O projeto que pretendia revolucionar o transporte coletivo de Porto Alegre previa melhorar a infraestrutura e criar sistemas inteligentes como bilhetagem eletrônica, monitoramento de veículos, controle e informação ao usuário.
A primeira etapa do projeto era a troca do pavimento dos corredores de ônibus das avenidas joão Pessoa, Protásio Alves, Osvaldo Aranha e Bento Gonçalves, que sequer terminou.
Em 4 de agosto de 2017, a prefeitura anunciou a intenção de transferir a verba obtida por meio do FGTS e do BNDES para as obras paradas da Copa do Mundo de 2014.
O argumento é que o montante é apenas 25% dos recursos necessários para contemplar o projeto na sua integralidade (R$ 1 bilhão).
4) Ampliação da Castelo Branco (Avenida da Legalidade)
No dia 18 de setembro de 2014, o Ministério das Cidades anunciou R$ 500 mil para a ampliação da Avenida Castelo Branco. A Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) já estava com o termo de referência pronto para poder escolher a empresa que iria realizar um estudo de viabilidade, quando, no fim de 2016, o Governo Federal anunciou que cancelou a liberação da verba.
5) Perimetral Metropolitana
Assim como a ampliação da Avenida Castelo Branco (Avenida da Legalidade), a construção da Perimetral Metropolitana foi anunciada pelo Ministério das Cidades em 18 de setembro de 2014. O Ministério das Cidades repassou R$ 1 milhão para o projeto. A rodovia teria 31 quilômetros de extensão e, partindo de Porto Alegre, ligaria os municípios de Viamão, Alvorada, Gravataí e Cachoeirinha. De acordo com a Metroplan, o custo total da obra estava orçado em R$ 250 milhões. Os estudos iniciaram, mas também houve corte de recursos por parte da União anunciado no fim de 2016 e o projeto foi engavetado.
6) Prolongamento da Avenida Ipiranga até Viamão
A ideia surgiu a partir de conversas de moradores em 2011. Ganhou força em setembro de 2013, quando uma audiência pública debateu a ampliação da avenida, em Porto Alegre, até o município de Viamão.
Entre 2013 e 2014, a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) chegou a realizar reuniões técnicas com integrantes da prefeitura e da UFRGS, dona do terreno que receberia a continuação da via.
Foram consideradas duas ligações alternativas. Uma delas, mais próxima da Avenida Bento Gonçalves, usaria vias internas do campus em busca de uma conexão com a extensão da Avenida Ipiranga. Essa hipótese foi rechaçada pela UFRGS. A outra foi considerada muito cara, pois fica na região mais elevada, com grandes impactos ambientais, o que fez com que o prolongamento ficasse inviabilizado.
7) Aeromóvel até a Arena do Grêmio
Em 2009, antes mesmo de realizar a obra do Aeromóvel até o Aeroporto Salgado Filho, a Trensurb já avaliava estender uma linha até a Arena do Grêmio. O assunto foi tratado pelos diretores-presidentes, Humberto Kasper, e Marco Arildo Cunha. Em julho de 2013, um estudo de demanda chegou a ser realizado. Em julho de 2017, a ideia foi aposentada. Segundo o diretor-presidente da Trensurb, David Borille, disse que é preciso esperar mais.
8) Aeromóvel para a zona sul de Porto Alegre
Em 19 de dezembro de 2011, um termo de cooperação foi assinado entre a prefeitura de Porto Alegre e a Trensurb. O objetivo era analisar a viabilidade da obra.
De acordo com estudos preliminares, a linha teria aproximadamente 7,2 quilômetros, da Usina do Gasômetro ao Jockey Club, no bairro Cristal. Devem ser construídas 12 estações, na extensão das seguintes vias: Presidente João Goulart, Loureiro da Silva, Augusto de Carvalho, Edvaldo Pereira Paiva e Diário de Notícias, junto ao Guaíba.
Em 2013, a Trensurb entregou o estudo de demanda de passageiros para a prefeitura. Ao custo de R$ 22 mil, a Matricial Engenharia Construtiva apresentou duas possibilidades de traçado da Estação Mercado da Trensurb até o Terminal Juca Batista – pela Avenida Padre Cacique e pela Avenida Edvaldo Pereira Paiva –, com cerca de 18 quilômetros de extensão.
Mas em julho de 2017, a ideia foi aposentada.
9) Estacionamentos subterrâneos
Em agosto de 2011, a Prefeitura de Porto Alegre lançou edital de manifestação de interesse público para receber estudos sobre a construção de estacionamentos subterrâneos, no intuito de criar mais vagas para carros em regiões com grande circulação de veículos. Em dezembro do mesmo ano, os vereadores aprovaram o projeto.
Em março de 2015, a Prefeitura divulgou que desistia de construir estacionamento subterrâneo no Parque da Redenção. A obra foi considerada muito cara e, por isso, foi abandonada. Já o projeto do Largo Glênio Peres, no Centro Histórico, não foi descartado, mas não há qualquer previsão de que o projeto sairá do papel na gestão de Nelson Marchezan.
10) Nova ponte sobre o Guaíba para ligar o bairro Lami, em Porto Alegre, e Barra do Ribeiro
A promessa foi feita pela governadora Yeda Crusius durante a campanha eleitoral em 2010. O anúncio animou prefeitos de municípios do centro-sul do Estado. A ideia: construir uma ponte para ligar o bairro Lami, em Porto Alegre, e a região de Barra do Ribeiro.
A obra integraria um megaprojeto de um Rodoanel, que envolveria a duplicada RS-118 até Viamão. Do outro lado do Guaíba, seriam feitas obras que cortariam a BR-116, facilitando o acesso de cargas ao porto de Rio Grande, e chegariam até a BR-290.
A proposta de Rodoanel foi abandonada, principalmente, por causa do pouco movimento que passaria sobre a ponte e também porque as obras de duplicação da BR-116 e da construção da Rodovia do Parque eram as apostas do governo federal.
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