A barulheira normal em frente à Rodoviária ganhou, nesta quarta-feira (29) um burburinho diferente: reunidos na entrada da estação, taxistas comemoraram o aniversário de seu colega mais antigo. Juvenal Cunha da Silveira chegou aos 95 anos trabalhando, cercado de amigos e aproveitou o guaraná com bolo — com a imagem de um táxi em cima — junto com as duas filhas e os dois netos.
Na verdade, o aniversário foi segunda-feira — ele nasceu em 27 de novembro de 1922. A rotina na rodoviária que determinou a comemoração dois dias depois: às segundas, o movimento no terminal, onde trabalha desde 1982, é bem maior. Foi bom remarcar: durante a festa, era difícil chegar perto de Seu Juvenal, assediado por cumprimentos e pedidos de fotos. É a celebridade do ponto.
— Isso aí? Deus o livre, não tem nem como agradecer uma coisa dessas. Parece um comício! — divertiu-se Juvenal com o tamanho da homenagem.
Apesar da exclamação, a popularidade não é novidade para ele. É considerado um profissional exemplar: às 7h, de segunda a sexta-feira, seu Juvenal já está no ponto com seu Celta prefixo 4284, é fornecedor oficial de troco e costuma ajeitar a fila de táxis para o lado certo. Cuidados de mais de meio século atrás do volante — começou em 1960, dirigindo um Pontiac, para garantir o sustento da família após a aposentadoria como metalúrgico.
Planos para a aposentadoria em sua segunda carreira ainda não estão no horizonte, uma vez que a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) continua válida. A partir dos 65 anos, um perito no Detran decide a periodicidade necessária de uma nova avaliação. Para Seu Juvenal, as renovações têm sido anuais. E fáceis: ele garante não ter nenhuma infração em seu nome. Na prefeitura, o número de reclamações sobre sua conduta desde os primeiros registros de seu táxi, em 1978, também fala alto: é zero.
— Vou dirigir inté o homem lá de cima decidir. Eles me deixam dirigir porque eu tenho o nome limpo, não tenho uma multa sequer! — orgulha-se o motorista.