O Centro Histórico, em Porto Alegre, foi palco para o episódio mais tenso da greve dos municipários no 16º dia de paralisação. Servidores públicos e Guarda Municipal entraram em confronto junto ao prédio onde funciona a parte administrativa da prefeitura de Porto Alegre, na Avenida Borges de Medeiros, na manhã desta sexta-feira (20), deixando pelo menos nove pessoas feridas.
Nelson Okano, 61 anos, foi atingido na lateral do rosto por um cassetete. Ele opina que foi uma ação truculenta.
— Foi um pouco assustadora a forma como eles chegaram, entraram "rasgando" — queixa-se o professor, que ficou com o rosto inchado e precisou fazer exames para constatar que não teve lesões graves.
De acordo com Alberto Terres, diretor-geral do Sindicato dos Municipários (Simpa), a entidade deve denunciar a ação da Guarda Municipal nas comissões de Direitos Humanos da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa.
Secretário Municipal de Segurança, Kleber Senisse afirma que a corregedoria da Guarda Municipal vai abrir uma sindicância administrativa para investigar a autoria e a materialidade das agressões, de ambos os lados. Mas defendeu que foi uma "ação normal", para que fosse preservada tanto a vida quanto o patrimônio público:
— A ação da Guarda foi uma reação em cima de uma situação de manifestantes que estavam causando prejuízo ao patrimônio, às pessoas e ao andamento do serviço público.
Como foi o confronto:
Os manifestantes tentaram bloquear o acesso à Secretaria da Fazenda durante a manhã e foram retirados pela Guarda Municipal. Durante a confusão, contêineres de lixo foram virados. Os guardas utilizaram cassetetes e spray de pimenta para abrir caminho.
Depois, ocorreu um novo tumulto. Um grupo de guardas municipais chegou para reforçar a equipe e houve agressões de ambos os lados. Ovos e objetos foram arremessados.
Conforme Glauber Zílio, comandante da Ronda Ostensiva da Guarda Municipal, a Guarda "respeita o movimento grevista e, normalmente, tenta negociar com os líderes dos movimentos ao chegar ao local, mas, dessa vez, não conseguiu diálogo". Zílio disse que o grupo reagiu após agressão dos manifestantes:
— Ao chegarmos com o grupamento, os manifestantes fizeram um bloqueio em frente à porta. Tentamos pedir gentilmente que saíssem, mas eles começaram a arremessar pedras e paus e feriram quatro guardas. Temos uma grande parte dos servidores que quer fazer o seu trabalho e temos de garantir que eles tenham acesso ao prédio para exercer suas tarefas diariamente.
Alberto Terres contesta a versão da Guarda Municipal e diz que não presenciou nenhuma agressão por parte dos manifestantes. Ele afirma que tentou dialogar com os guardas, sem resultado.
— Foi lamentável. Guarda chegou por trás do grupo para nos tirar à força do piquete. Todas as nossas manifestações têm sido pacíficas e reivindicatórias, mas a Guarda Municipal nos agrediu. E eles só fazem isso porque são mandados pelo prefeito.
Os manifestantes e guardas feridos foram encaminhados ao Hospital de Pronto Socorro, mas foram liberados.