Às vésperas de se completarem dois meses do suposto caso de homofobia em uma festa de formatura no clube Associação Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre, a Polícia Civil ainda não recebeu do Departamento Médico Legal (DML) o resultado do exame de lesão corporal feito pelo psicólogo e empresário Marcus Vinicio Soares Beccon, namorado do universitário Raul Silveira Weiss.
A delegada Cristiane Pires Ramos, titular da Central de Termos Circunstanciados, aguarda o laudo para decidir se conclui o inquérito policial ou se faz a solicitação de novas diligências. O exame foi realizado por Beccon em 5 de agosto, um sábado, horas após a ocorrência na festa.
— Estamos com os laudos bem atrasados por questão de pessoal. A delegada me ligou e cobrou. Eu fiquei de entregar até esta quarta-feira (4). O documento atualmente é digital. No momento em que a perita responsável assinar, já entra na caixa para ser acessado — informa Luciano Haas, diretor do DML.
Ainda não há informação oficial sobre o resultado da análise.
Até agora, Cristiane tomou 18 depoimentos no inquérito, incluindo as supostas vítimas e os possíveis agressores, além de testemunhas indicadas por ambos e pessoas identificadas como relevantes pela investigação. A delegada também recebeu as imagens de três câmeras de segurança do clube. O Leopoldina Juvenil enviou as gravações, mas os investigadores observaram que faltavam 15 minutos de filmagens, entre 2h30min e 2h45min da madrugada de 5 de agosto. O hiato é próximo do horário em que teria ocorrido a altercação entre o pai da formanda e o casal. A Polícia Civil oficiou o clube em 14 de agosto para que enviasse o inteiro teor do material de vídeo. O pedido foi atendido prontamente, informa a delegada.
A investigação verificou que o casal não aparece nas imagens que estavam ausentes. A nitidez dos vídeos está prejudicada por características inerentes a uma festa noturna, como a baixa luz e a fumaça pirotécnica.
Caso marcado por versões divergentes
O casal, à época, denunciou ter sofrido agressões físicas e verbais supostamente cometidas pelo pai da formanda, o empresário Pablo Beis Irigoyen. Em depoimento, Beccon e Weiss também apontaram outras duas pessoas como possíveis autoras de violência – uma delas foi identificada e ouvida pela Polícia Civil. Os seguranças teriam retirado os namorados da festa com uso de força. Supostamente motivado por homofobia, o episódio teria começado com um convidado jogando bebida no casal gay após um beijo.
O caso, polêmico, é marcado por versões divergentes. Irigoyen negou as agressões físicas e verbais. Ele afirmou ter sido abordado por três vezes por Beccon, que teria exigido a identificação de quem havia lhe jogado bebida. Na última ocasião, diz, o convidado estaria alterado, o que causou uma discussão mais acalorada. Beis ainda disse que Beccon foi puxado pelo namorado, com a intenção de retirá-lo do centro da tensão. Neste momento, ele teria se desequilibrado e caído no chão. O pai diz ter tentado ajudar Beccon a se levantar. O convidado, ao perceber que era o pai da formanda quem lhe dava apoio, teria se jogado ao chão novamente. Por fim, ele teria levantado e ido embora sem ser importunado.