Responsável pelo inquérito do suposto caso de homofobia em uma festa de formatura em Porto Alegre, a delegada Cristiane Pires Ramos identificou a ausência de trechos nas imagens das três câmeras de monitoramento enviadas pela Associação Leopoldina Juvenil à Polícia Civil.
As filmagens são um elemento que pode ajudar a esclarecer se o empresário Marcus Vinicio Soares Beccon e o estudante universitário Raul Silveira Weiss sofreram agressões físicas e psicológicas supostamente motivadas por homofobia. Um dos acusados pelo casal é o pai da formanda, que nega ter praticado os atos.
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Cristiane diz que não é possível afirmar se houve cortes intencionais. Ela verificou que as imagens enviadas pelo clube se desenrolam até cerca de 2h30min da madrugada do dia 5 de agosto e, depois disso, há um hiato de aproximadamente 15 minutos. As imagens são retomadas a partir de 2h45min.
– Bate com o horário que as vítimas alegam que as coisas teriam acontecido. Oficiei o clube hoje (segunda) solicitando a íntegra das imagens e uma informação sobre o que aconteceu. O prazo é de 48 horas – informou a delegada.
O presidente do Leopoldina Juvenil, Gustavo Caleffi, disse que "o clube só se manifestará por notas e, sobre o assunto, o que for questionado pela delegada será respondido à Polícia Civil".
Depoimento de três horas
Também nesta segunda-feira, a delegada tomou depoimento de cerca de três horas do casal que está fazendo a denúncia. Beccon e Weiss mantiveram a versão e apresentaram nomes de testemunhas que deverão ser ouvidas. Além de repetir a acusação contra o pai da formanda, o empresário Pablo Beis Irigoyen, eles apontaram outros dois convidados como possíveis autores de atos de violência. Um dos novos suspeitos já foi identificado pela Polícia Civil. A delegada diz que irá manter o nome em sigilo para não prejudicar as investigações.
Nesta terça-feira, será a vez de Beis prestar depoimento. Ele nega as acusações.
Na festa, uma pessoa teria jogado bebida no casal após um beijo. Beccon foi ao encontro do pai para pedir que fosse identificado e retirado do clube o responsável pelo ato. As versões, a partir daqui, são antagônicas. O casal diz que homens se aproximaram e os agrediram fisicamente por repetidas vezes. Também teriam sofrido xingamentos, sendo retirados a força por seguranças.
O relato do pai é diferente. Ele afirma ter sido abordado por três vezes por Beccon, que teria exigido a identificação de quem havia lhe jogado bebida. Na última ocasião, assegura, o convidado estaria alterado, o que causou uma discussão mais acalorada. Beis ainda disse que Beccon foi puxado pelo namorado, com a intenção de retirá-lo da centro da tensão. Neste momento, ele teria se desequilibrado e caído no chão. O pai diz ter tentado ajudar Beccon a se levantar. O convidado, ao perceber que era o pai da formanda quem lhe dava apoio, teria se jogado ao chão novamente. Por fim, ele teria levantado e ido embora sem ser importunado.